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Quarta, 06 Abril 2016 21:45

Angola/FMI: Apoio financeiro não é o mais importante, mas sim “credibilidade” e “reformas”

O economista angolano Carlos Rosado de Carvalho afirma que o apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Angola deverá ser reduzido e que mais importante será a "credibilidade" e as "reformas" que o programa de assistência trará ao país.  

"Não é o dinheiro que é importante, mas sim o programa de reformas e o compromisso deste programa. É evidente que haverá cortes, mas o fundamental é a confiança que vai dar à economia angolana e a credibilidade às políticas. Os investidores vão ficar mais confiantes, porque vão esperar um crescimento mais sustentável da economia angolana", explicou o economista, em declarações à Lusa, em Luanda.

O FMI anunciou que Angola solicitou um programa de assistência para os próximos três anos, cujos termos serão debatidos nas reuniões de primavera, em Washington, e numa visita ao país.

Angola vive desde final de 2014 uma crise financeira, económica e cambial, decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo em conta a baixa no mercado internacional.

"Agora dá ideia às pessoas de desespero, face à relutância do Governo [no pedido de apoio ao FMI], e se tivesse sido feito antes tinha sido melhor, porque já se falava então na Nigéria e noutros países. Mas acho que vai ser bom para Angola porque vai acelerar as reformas, coisas que não precisávamos que nos impusessem de fora, mas que aparentemente não havia outra alternativa. Agora vamos fazer o que é óbvio", disse o também diretor do semanário económico angolano Expansão.

Alguns economistas já fixaram o montante do apoio financeiro do FMI a Angola em mais de 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros), contudo, Rosado de Carvalho recorda que este tipo de programa de assistência permite, no máximo, 225% da quota de cada país, que no caso de Angola ronda os 400 milhões de dólares.

Tendo em conta um programa a três anos, o FMI poderia emprestar a Angola cerca de 300 milhões de dólares por ano, nas contas do economista: "Mas o mais importante é que este programa abre perspetivas a outros financiamentos".

Segundo Carlos Rosado de Carvalho, e recordando o acompanhamento que o FMI tem feito do país, desde a intervenção em 2009, contrariamente à imagem de "cortes e austeridade" em programas de assistência na América Latina e na Europa, a postura daquela instituição em Angola "tem sido diferente".

Como exemplo aponta a recomendação que foi feita pelo FMI para uma retirada faseada dos subsídios aos combustíveis, que não foi seguida pelo Governo, que optou por concluir o processo no final de 2015, com uma subida dos preços da gasolina e do gasóleo.

Recorda também que em paralelo também era proposto pelo Fundo um plano de transferências diretas para as famílias mais afetadas, mas "que nunca foi concretizado pelo Governo".

"Isto vai exigir agora uma exigir disciplina financeira, transparência. Provavelmente, hoje não teríamos as contas do Banco Nacional de Angola e da Sonangol auditadas, se não fosse o FMI [programa de assistência de 2009]", enfatizou o economista.

Uma "melhor seleção dos investimentos públicos" e a adjudicação de obras através de concursos públicos e a sua fiscalização, além da reclamada diversificação da economia além do petróleo, são medidas que Rosado de Carvalho espera ver implementadas com a chegada do FMI a Angola.

"Coisas aparentemente óbvias, mas que nós não vínhamos fazendo. Mas que o FMI vai obrigar a fazer", disse.

Num país em que a austeridade foi decretada pelo Governo em 2015, que vive com metade das receitas do petróleo, o economista admite que é de prever mais cortes nas contas públicas, com ou sem FMI.

"Só este ano, o défice [público, previsto] equivale a cerca de 5% do Produto Interno Bruto, por baixo são 5 mil milhões de dólares. Não temos condições para isso e vai ter de haver cortes na despesa. Que existiriam em qualquer circunstância", concluiu Carlos Rosado de Carvalho.

© Lusa

 

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