Segundo a presidente do Sinprof, Hermínia do Nascimento, a decisão da paralisação foi deliberada em reunião dos conselheiros do sindicato, que decorreu em outubro passado na provincia angolana do Huambo, referindo que a greve será faseada
"Em outubro foi decidida uma paralisação a partir de 15 de janeiro de forma faseada, cumpriremos cino fases se o governo continuar a ignorar e a desprezar o nosso clamor. Já realizamos as assembleias municipais e em janeiro faremos assembleias provinciais em simultaneo", disse a responsável.
Em declarações à margem do "Fórum sobre Financiamento da Educação Pública", que decorre em Luanda, a lider sindical salientou que o Sinprof remeteu o caderno reivindicativo em julho passado, mas, até ao momento, não se registam ações concretas por parte do Ministério da Educação.
"Tivemos apenas dois encontros onde não passámos da análise do segundo ponto, porque quando vamos negociar as condições que se oferecem devem respeitar as pretensões dos outros", realçou.
O Sinprof reivindica, entre várias questões, a dotação de orçamento próprio para as escolas, tendo como fonte o Orçamento Geral do Estado (OGE), melhores condições de trabalho para os professores, bem como um reajuste salarial face às assimetrias com categorias profissionais homólogas, a distribuição atempada dos manuais escolares aos alunos do ensino primário.
Relativamente aos pontos pendentes resultantes de acordos assinados com o Executivo, no caderno reivindicativo de 11 pontos o Sinprof exige, por exemplo, a realização de um concurso de ingresso interno para o nivelamento das carreiras dos professores com carreiras desajustadas.
O pagamento do subsidio de férias em folha separado, o décimo terceiro salário em parcela única e o pagamento do prémio de exame aos detentores de cargos de direção e chefia, constam também do caderno reivindicativo.
Sobre a temática do fórum, Hermínia do Nascimento disse que no OGE 2026, aprovado hoje pelo parlamento angolano, o Governo alocou apenas 6,8% do total para a Educação, considerando "vergonhosa" a dotação orçamental para o setor.
"E vergonhoso Angola, pais que se diz rico, aprovar um orçamento para a Educação abaixo dos 10%, não saímos dos 6% e mais uma vez o governo angolano desrespeitou as decisões internacionais", lamentou.
Criticou ainda o que considerou como "gastos injustificáveis em ações "não prioritárias", sobretudo nas celebrações dos 50 anos de independència de Angola, em rnovembro passado, quando o pais tem "uma população que come nos contentores, crianças fora do sistema de ensino, sem creche, sem saúde em condições".
"Não podemos continuar a assistir o número de milhões de crianças fora do sistema de educação, sem educação pré-escolar, é vergonhoso", insistiu, defendendo que as autoridades deveriam, "no minimo" destinar 20% do OGE para a Educação.
Um estudo sobre qualidade de ensino nos últimos 20 anos, divulgado na abertura deste fórum, mostra o "fraco investimento" na educação em Angola com 60% das escolas públicas sem água corrente e as que têm apenas 15% têm de forma regular.
O estudo refere Igualmente que 87,4% das escolas públicas não possuem bibliotecas funcionais, 90% não tëm laboratórios funcionais, 69% das infraestruturas não oferecem condições de trabalho adequadas, 90,8% dos professores quer abandonar o ensino devido aos baixos salários, falta de condições laborais e desvalorização social e o país tem um défice de mais de 152 mil salas de aula.
"O pais precisa de soluções sustentáveis para a melhoria da qualidade de ensino, começando com um orçamento como recomendam as convenções e instrumentos legais ratificados por Angola", defendeu ainda o Sinprof.

