Em 2027, Angola será a dama mais cortejada da sala. Uma verdadeira missirela à moda angolana. Cada partido apresentará apenas um candidato, como manda o regulamento do concurso. Uns virão com currículo bem passado a ferro, falando de conquistas transparentes, suor honesto e sacrifícios reais. Outros… bem, outros chegarão com fatos caros, discursos afinados e uma biografia tão bem maquiada que nem o melhor desmaquilhante político consegue remover certas manchas.
Começa agora a fase mais divertida — e perigosa — do espetáculo: a luta silenciosa (e às vezes barulhenta) para decidir quem será o escolhido. Nos bastidores, a guerra não é contra o adversário externo, mas dentro de casa. Cotoveladas elegantes, abraços falsos, sorrisos que escondem facas. Afinal, antes de disputar a dama, é preciso ganhar o concurso interno de beleza, influência e sobrevivência.
Há candidatos que dizem amar Angola desde sempre. Curioso é que esse amor só se torna público quando o calendário eleitoral se aproxima. Outros aparecem como salvadores da pátria, prometendo mudar tudo em cinco anos, levar a dama no ceu — algo que não conseguiram fazer em décadas de poder, influência ou silêncio cúmplice. Mas o palco é assim: quem fala mais alto parece mais convicto, e quem promete mais parece mais bonito sob os holofotes.
Enquanto isso, a dama observa. Cansada, mas elegante. Rica, mas ferida. Bela, mas marcada. Já viu muitos pretendentes jurarem amor eterno e desaparecerem logo após a lua-de-mel eleitoral. Já dançou com parceiros que pisaram seus pés, rasgaram seus vestidos e ainda tiveram coragem de culpar a música. Angola, Angola meu pais.
O povo, esse sim, é o verdadeiro júri. Ri, comenta, critica, desconfia. Já não se impressiona apenas com promessas, slogans ou cartazes coloridos. Quer ver provas, não poses. Quer sentir resultados, não apenas ouvir declarações de amor em época de campanha.
Em 2027, Angola não precisa apenas de um candidato baixinho, alto, enfarrapado, bonito ou charmoso no palco político. Precisa de alguém que a respeite fora dos holofotes, que a trate o povo com dignidade quando as câmaras se desligam, que não a veja como troféu, mas como responsabilidade histórica.
Porque no fim, este concurso não é de beleza. É de caráter.
E Angola já não quer mais um apaixonado de ocasião — quer um parceiro à altura da sua história.
Por Rafael Morais

