O Ministério da Saúde deverá receber 26,5 milhões de dólares para contratar médicos russos para trabalharem em hospitais públicos e para a especialização de quadros angolanos.
O Presidente da República, através de um recente despacho citado pela imprensa angolana, autorizou a ministra da Saúde a aprovar as peças do procedimento e a assinar o correspondente contrato, por ajuste directo, para a aquisição de prestação de serviços médicos diferenciados e de formação de até 341 médicos especialistas.
O especialista em saúde pública dr. Maurílio Luyele diz ser “uma opção equivocada” a contratação de médicos expatriados a quem o governo deverá pagar pelo menos seis vezes mais do que aos nacionais.
O também ministro da Saúde do “governo sombra” da UNITA considera que nesta fase “ deve-se investir na formação de especialistas nacionais além de aumentar o número de médicos em si”.
“E faz-nos espécie que o governo se recusa a oferecer melhores salários aos médicos nacionais, no entanto tem mão leve na hora de contratar expatriados que vão ganhar pelo menos seis vezes mais que os médicos nacionais”, disse.
“Não há dinheiro para aumentar o salário para aumentar o salário dos médicos nacionais mas sempre surge dinheiro para sustentar esta cooperação que, do nosso ponto de vista, é já uma aberração”, concluiu, Maurílio Luyele.
Por sua vez o analista social, André Augusto, diz ser “contraproducente” a contratação anunciada sob alegação de que muitos russos virão a Angola para fazerem o mesmo que muitos especialistas angolanos já fazem.
Augusto sugere que “muitos deles não são doutorados mas apenas licenciados em medicina e que vêm a Angola para ganharem um salário muito maior em detrimento dos quadros angolanos especializados e alguns deles desempregados”.
O médico cardio-pneumologista, Francisco Magalhães Inácio, defende entretanto que a importância da contratação de especialistas russos reside na participação destes na formação de quadros angolanos.
“É uma oportunidade para valorizarmos os quadros nacionais e uma troca de experiências no campo da ciência”, defendeu.
O Ministério das Finanças deve inscrever o projecto no Orçamento Geral do Estado para o exercício económico de 2023 e assegurar a disponibilidade de recursos financeiros.
A empresa Zdravexport propõe empregos no estrangeiro em clínicas de Angola para médicos da Rússia, países da CEI e estados bálticos. Perto de 350 médicos russos trabalham atualmente em Angola graças à ZAO "Grupo Zdravexport'”, refere a companhia no seu site consultado pela VOA.
“Oferecemos emprego para médicos, que é realizado pela nossa empresa por motivos puramente legais e sob visto de trabalho”, diz
Um visto de trabalho dá ao seu titular a oportunidade de residir e trabalhar oficialmente em Angola, estando protegido pela legislação laboral do país anfitrião”, conclui.
Em 2018 o governo havia revelado que 1.500 médicos formados dentro e fora do país estavam desempregados.