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Segunda, 21 Dezembro 2015 14:40

O “massacre” dos 11 milhões de ovos - Reginaldo Silva

Ovos masscre2Tal como havíamos prometido, cá estamos nós a fazer o “follow-up” desta rocambolesca história dos ovos, que teve inicio em Agosto último, quando na voz da própria Ministra do Comércio ficamos a saber que 11 milhões deles tinham sido “capturados” no Porto de Luanda, quando tentavam entrar de fininho para o nosso sempre ávido e deficitário mercado de consumo alimentar.

Por Reginaldo Silva

Neste mercado é indiscutível o lugar cimeiro que a iguaria ocupa no ranking das preferências locais, por um conjunto de razões que se percebem facilmente e ainda mais facilmente se conseguem confirmar na bem sucedida comercialização dos ovos cozidos que se faz na via pública.

Pelo que se sabe, raramente as “operadoras” deste mercado conseguem regressar a casa com algum deles vivo/cozido para contar a história de mais um dia de vendas.

Recorde-se, que a acusação que justificou este “flagrante delito”, esteve relacionada com o facto do importador ou importadores de tamanha quantidade de ovos não terem respeitado algumas normas alfandegárias para os devidos efeitos, o que pelo vistos já não deve ser bem uma novidade.

Quatro meses depois, a decisão sobre este processo, que  sempre balançou entre ficar/comer os ovos ou destrui-los por razões sanitárias, recaiu sobre a segunda opção tendo ao que consta a sentença de morte já sido executada.

De acordo com o que se sabe e, certamente, na sequência das conclusões a que o laboratório chegou, os ovos não estavam em condições para serem consumidos pela população, pelo que o único destino  possível a dar-lhes foi a sua transformação numa gigantesca e incendiária “omelete” que foi parar a um aterro qualquer.

Do ponto de vista estritamente jornalístico, esta história ainda não está toda contada como deve ser.

Antes mais, continua-se sem saber quem foram os importadores, mas já se sabe que eles serão responsabilizados, pelo que têm de ter nome e localização, enquanto se aguarda agora por mais algum tempo, até que a “torneira” volte a pingar mais umas dicas para a imprensa.

Depois, até ao momento apenas uma versão dos factos  transpirou para a opinião pública, o que é manifestamente insuficiente para quem olha para a realidade com outras preocupações em termos de profundidade.

Não se trata de desconfiar de ninguém, mas é já ponto assente que numa situação onde há conflitos de interesses, a verdade dos factos nem sempre é aquela que nos é oferecida no primeiro encontro com uma das partes.

Quanto ao veredicto laboratorial que ditou a “triste sorte” de tanta comida, não há qualquer informação no concreto relacionada com o “diagnóstico” feito.

Seria de todo o interesse público que ficássemos a saber, afinal de contas, de que é que uma população tão expressiva de ovos padecia para ir parar directamente a um aterro.

Um conhecimento que nos iria permitir estar mais atentos a qualidade dos produtos alimentares que compramos e ingerimos.

Admite-se que uma grande parte das doenças mais estranhas que actualmente contraímos, pode ter como causa o que andamos a meter na boca, sem pensar em mais nada para além de matar a fome com o dinheiro que temos nos bolsos.

A “aterradora” viagem dos 11 milhões foi a todos os títulos inglória, pois não foi possível aos malogrados cumprirem a sua função estratégica junto dos nossos estômagos, onde para a maioria dos angolanos eles têm sido de uma grande utilidade no combate diário à fome e à subnutrição.

Para quem ainda não sabe, onde o signatário também estava até esta semana incluído, o ovo é um pitéu que reúne naquele pequeníssimo espaço vital protegido apenas por fina e vulnerável casquinha, quase tudo e mais alguma coisa que o nosso organismo precisa para se desenvolver de forma equilibrada e assim responder com sucesso a todos os desafios que a vida lhe coloca.

Soubemos agora na sequência desta história que o “ovo de galinha é um dos alimentos naturais mais perfeitos, oferecendo aos consumidores um balanço quase completo de nutrientes essenciais com proteínas de excelente valor biológico, vitaminas, minerais e ácidos graxos”.

Para além disso, e é aí que entram os pobres, que ainda são a esmagadora maioria da população planetária, o custo e o benefício do produto ovo, fazem dele a solução ideal para se ajudar a resolver com sucesso os problemas nutricionais da “maralha” que anda pelas ruas da amargura a contar tostões e a falar mal da vida e de quem de direito, sem estar a planear nenhum golpe.

Para melhorar ainda mais esta exaltação do ovo como alimento de referência, ficamos também a saber que aquela história do colesterol mau também está mal contada, não sendo bem verdade que exista uma conspiração entre os dois para  nos derrubarem.

O Pais

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