Quarta, 20 de Agosto de 2025
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Quarta, 20 Agosto 2025 08:03

Subversão russa em Angola dá razão parcial a João Lourenço

O eventual envolvimento de cidadãos russos, ligados ao grupo Wagner, em estratégias de desinformação e manipulação da opinião pública em Angola, abre uma nova janela sobre a atuação de Moscovo em África.

A detenção de Igor Racthin e Lev Lakshtanov por terem ajudado a fomentar a instabilidade social durante a greve dos taxistas em Luanda, indica que a Rússia estendeu a sua rede de influência subterrânea em África a um nível até agora desconhecido.

Os russos, através do grupo Wagner, foram referenciados em países como a República Centro Africana, Sudão e Mali, onde conseguiram colocar no poder personalidades que lhe são próximas. Em paralelo, e mais importante, obtiveram acesso a instituições financeiras que tinham bancos correspondentes na Europa, permitindo assim movimentar e dinheiro e escapar às sanções impostas à Rússia no âmbito da invasão da Ucrânia.

Neste quadro fica também por apurar as reais intenções do grupo Wagner e da Rússia quando, em 2019, se envolveram no combate ao terrorismo islâmico em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, precisamente o mesmo ano em que manipularam as redes sociais para apoiar Filipe Nyusi, o candidato presidencial da Frelimo.

A detenção destes dois indivíduos em Angola, referenciados como pertencendo à Africa Politology, uma célula do grupo Wagner criada inicialmente para desenvolver “estratégias e mecanismos para induzir os países ocidentais a retirarem a sua presença em África […] minar a influência ocidental, desacreditar a ONU e levar a cabo processos judiciais contra os órgãos de imprensa ocidentais”, permite extrair duas ilações. Uma é a de que a Rússia quer efetivamente desestabilizar o Governo de Angola, a outra, decorrente da primeira, é de que pretende promover a chegada ao poder de um grupo de pessoas sobre as quais julga ter ascendente.

Os laços económicos entre Angola e a Rússia têm vindo a desaparecer. Em junho deste ano, a russa Alrosa foi substituída pela empresa estatal saudita Taaden na estrutura acionista da Sociedade Mineira da Catoca e um mês antes, em maio, o banco VTB África, com casa-mãe em Moscovo, suspendeu a sua atividade em Angola devido às sanções internacionais a que a Rússia está sujeita.

O SIC (Serviço de Investigação Criminal) garante que Racthin e Lakshtanov “estão ligados a organizações criminosas internacionais, que atuam em África e se dedicam a produção de estratégias de campanhas de desinformação e propaganda nas redes sociais nos países em fase de pré-campanhas ou mesmo em campanhas eleitorais, legislativas ou presidenciais, para mudança de regimes legalmente estabelecidos, através da alteração da ordem”, encontrando-se no “encalço de outros suspeitos já identificados, que receberam os montantes em dólares norte-americanos e kwanzas que seriam utilizados para financiamento de manifestações nas províncias de Luanda e Benguela”.

Esta ação subversiva, paradoxalmente, acaba por ajudar o Governo de Angola e João Lourenço, que podem assim esgrimir o argumento de que a instabilidade social tem pouco a ver com o agravamento do nível de vida das populações, sendo antes fruto de uma manipulação externa. 

Os Estados Unidos e a China protagonizam, às claras, uma disputa sobre o controlo económico de África, na qual Pequim leva uma enorme vantagem. Com este envolvimento em Angola, os russos, que no período da guerra colonial foram os grandes financiadores do MPLA, mostram que estão dispostos a entrar neste jogo pela via da subversão. E que os compromissos da histórica União Soviética foram definitivamente rompidos pela Rússia de Putin embora no plano institucional se mantenham as aparências como o atesta a audiência concedida no dia 14 de agosto por João Lourenço ao embaixador russo, Vladimir Tararov, que se encontra no fim da sua missão em Angola. Jornal de Negócios

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