Quarta, 03 de Dezembro de 2025
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Quarta, 03 Dezembro 2025 15:31

Russos detidos em Luanda queriam “provocar alternância política” e colocar UNITA no poder

Os cidadãos russos detidos em Luanda a 7 de agosto pretendiam, segundo o Ministério Público angolano, derrubar o atual regime e “provocar alternância política, conduzindo o partido UNITA ao poder” ou, em alternativa, influenciar uma mudança interna na liderança do MPLA.

As conclusões constam da acusação datada de 26 de novembro, segundo a qual os russos Igor Rotchin Mihailovich (38 anos) e Lev Matveevich Lakshtanov (64 anos), juntamente com os angolanos Amor Carlos Tomé (jornalista, 38 anos) e Oliveira Francisco (dirigente da UNITA, 32 anos), estão acusados dos crimes de espionagemorganização terroristafinanciamento ao terrorismoinstigação pública ao crimeterrorismocorrupção ativa e introdução ilícita de moeda estrangeira.

Africa Org sucedeu ao Grupo Wagner e atuava em Angola sob fachada cultural

Segundo a acusação, após a morte de Yevgeny Prigozhin, em agosto de 2023, os ativos africanos do Grupo Wagner passaram para a estrutura Africa Org, que mantém presença no continente através da Africa Politology, e em Angola sob a designação Angola Politology, com o projeto “Ciência Política de Angola”, liderado por Igor Mihailovich.

De acordo com a agência Lusa, o MP descreve a organização como uma rede que inclui “tecnólogos políticos, meios de propaganda profissionalizados, frentes de lobbying comercial”, bem como ex-agentes de Prigozhin e oficiais de inteligência, dedicados a “campanhas agressivas de informação e guerra cibernética, incluindo clonagem em grande escala de sites, espionagem cibernética”.

Para dar “um rosto legal” às operações, os arguidos alegaram querer criar a Casa da Cultura Angola-Rússia, mas o verdadeiro objetivo passaria por “atos concretos de desestabilização do país”, visando alterar o poder político.

Contactos com altos dirigentes da UNITA e figuras críticas do MPLA

A acusação detalha que o arguido Oliveira Francisco, responsável pela componente política, procurou aproximar os russos da liderança da UNITA, incluindo através de contactos com Manuel Ekuikui “Nelito Ekuikui”, secretário-geral da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), o general Armindo Paulo Lukamba “Gato” e o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior.

Numa das reuniões foi alegadamente discutida a preparação para as eleições de 2027, incluindo propostas — supostamente já partilhadas com Adalberto Costa Júnior — sobre assistência financeira, segurança, formação de quadros e obtenção de informação.

Ao jornalista Amor Carlos Tomé caberia a identificação de quadros críticos dentro da UNITA e do MPLA, bem como o recrutamento de jornalistas e analistas para produzir conteúdos destinados a gerar “um sentimento generalizado de insegurança e repulsa pela atual governação”, potenciando convulsões sociais.

Tomé também teria facilitado reuniões com figuras do MPLA, como general Higino Carneiro, pré-candidato à liderança, o engenheiro António Venâncio, também aspirante e o general Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, ex-secretário-geral.

MP liga arguidos à greve dos taxistas e planeamento de manifestações

A acusação refere que, a 2 de junho de 2025, os arguidos começaram a planear “uma manifestação de grande vulto inicialmente contra a fome”. Em julho, já teriam conhecimento do que iria ocorrer em Luanda, numa referência à greve dos taxistas entre 28 e 30 de julho, que culminou em tumultos.

Segundo o MP, Amor Carlos Tomé terá enviado a Lakshtanov o texto “taxistas paralisam em Luanda”, mais tarde adotado pelo vice-presidente da  Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANA), Rodrigo Catimba — também detido — como base para comunicação com a imprensa.

Aos quatro detidos foram aplicadas medidas de prisão preventiva, enquanto o Ministério Público prossegue a investigação ao alegado esquema de ingerência política e desestabilização em Angola, com ramificações internacionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Segundo a acusação, datada de 26 de novembro e a que a Lusa teve esta quarta-feira, 3 de dezembro, acesso, Igor Rotchin Mihailovich, de 38 anos, e Lev Matveevich Lakshtanov, de 64 anos, e os angolanos Amor Carlos Tomé, jornalista, de 38 anos, e Oliveira Francisco, dirigente político da UNITA, maior partido da oposição angolana, de 32 anos, detidos a 7 de agosto deste ano, cometeram os crimes de espionagem, organização terrorista e financiamento ao terrorismo, de instigação pública ao crime, de terrorismo, de corrupção ativa de funcionário e de introdução ilícita de moeda estrangeira no país.

Na acusação, o MP indica que, após a morte de Yevgeny Prigozhin, em agosto de 2023, os ativos africanos do Grupo Wagner foram assumidos pela Africa Org, estrutura paramilitar que mantém presença no continente através da Africa Politology e no país lusófono pela Angola Politology, com um projeto denominado “Ciência Política de Angola”, liderado pelo arguido Igor Mihailovich, chefe da direção no país.

Os arguidos Lev Lakshtanov, Amor Carlos Tomé e Oliveira Francisco são membros assalariados da organização, cuja atividade inclui redes secretas de tecnólogos políticos, meios de propaganda profissionalizados, frentes de lobbying comercial, “composta por antigos agentes de Prigozhin e oficiais de inteligência, que executam campanhas agressivas de informação e guerra cibernética, incluindo clonagem em grande escala de sites, espionagem cibernética”, descreve o MP.

De acordo com a acusação, para a implementação dos seus projetos, “e para oferecer um rosto legal”, a organização alegou que pretendia criar a Casa da Cultura Angola-Rússia, mas os seus objetivos políticos passavam por “atos concretos de desestabilização do país, de modo a que pudessem provocar a alternância política, conduzindo o partido UNITA ao poder, ou em alternativa, não sendo possível conduzir o partido UNITA ao poder, forçar que a alternância ocorra dentro da liderança do partido MPLA [no poder], influenciando a indicação de um Presidente pró-Rússia”.

Para a execução das suas tarefas, o arguido Oliveira Francisco ficou com a parte política, com a responsabilidade de criar condições para aproximar os arguidos russos à presidência da UNITA, “de modo a conduzi-los a uma parceria e troca de serviços, mediante celebração de um memorando”, prossegue.

Os contactos feitos por Oliveira Francisco, secretário nacional para mobilização urbana da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), organização juvenil da UNITA, iniciaram-se com Manuel Ekuikui “Nelito Ekuikui”, secretário-geral da JURA, passando depois ao general Armindo Paulo Lukamba “Gato”, o interlocutor da organização, bem como ao líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, lê-se na acusação.

Num dos encontros realizados foi alegadamente discutida a parceria para as eleições de 2027, tendo sido apresentadas depois “propostas já discutidas com o presidente do partido Adalberto Costa Júnior” para assistência financeira, segurança, formação de quadros do partido no exterior e auxílio na obtenção de informações, escreve o MP.

“Ao arguido Amor Carlos Tomé coube identificar líderes e militantes da UNITA ou do MPLA [partido no poder] que sejam críticos à atual liderança dos respetivos partidos, identificar objetivos económicos que podem servir os interesses dos arguidos, identificar e recrutar jornalistas”, acrescenta.

Segundo a acusação, a lista incluía ainda analistas para produzir textos a serem difundidos em massa nos jornais físicos e digitais, rádios privadas, páginas do Facebook, grupos de whatsapp, “tendentes a criar um sentimento generalizado de insegurança e repulsa pela atual governação e que ao final conduzisse a convulsões sociais e a almejada alternância política”.

Foi o arguido Amor Carlos Tomé que terá fornecido contactos de figuras do MPLA, promovendo reuniões entre os arguidos russos e o general Higino Carneiro, pré-candidato à liderança do MPLA, o engenheiro António Venâncio, que aspira igualmente à liderança do partido, bem como o general Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, antigo secretário-geral do partido, refere.

A 2 de junho de 2025, relata o MP na acusação, “os arguidos começaram a projetar a criação e realização de uma manifestação de grande vulto inicialmente contra a fome”, e a 16 de julho do mesmo ano, os arguidos Amor Carlos Tomé e Lev Lakshtanov “já tinham ciência de tudo que havia de ocorrer em Luanda", numa alusão à greve dos taxistas que ocorreu em Luanda, entre 28 e 30 de julho, resultando em tumultos.

O Ministério Público afirma ter chegado a esta conclusão porquanto o arguido Amor Carlos Tomé havia enviado, a 16 de julho, ao arguido Lev Lakshtanov um texto com o título “taxistas paralisam em Luanda”, mais tarde adotado pelo vice-presidente da Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANA), Rodrigo Catimba, igualmente detido, nas sua comunicação com a imprensa.

Aos arguidos foi aplicada a medida de coação de prisão preventiva.

 

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