“A inflação, a desvalorização do kwanza e a corrupção em larga escala têm estado a prejudicar as famílias angolanas. Em outras palavras, as famílias angolanas estão muito mais pobres hoje do que estavam há 10, 15 anos”, declarou Chivucute na última edição do programa A Última Palavra, da Rádio MFM.
Sobre o aumento da pobreza, o dirigente da Friends of Angola descreveu um cenário “degradante”, ilustrado pela luta de pessoas em torno dos contentores de lixo espalhados pelo país.
“Não são apenas velhos nos tambores de lixo. [Há também] uma centena de jovens. Mesmo no tempo da Guerra Civil, não me recordo de ver crianças e jovens a lutarem por restos de lixo”, lamentou.
Como solução, defendeu que o Executivo deve avançar com “ajustes urgentes” nos salários, de modo a devolver o poder de compra às famílias e evitar que estas continuem a viver “com a corda no pescoço”.
Chivucute foi ainda crítico quanto à luta anticorrupção liderada pelo Presidente da República, João Lourenço, classificando-a como um “fiasco”.
“Infelizmente, a corrupção não acabou. Muito pelo contrário, aumentou. E uma das principais fontes de corrupção neste momento são os ajustes directos [contratação simplificada] que o Presidente tem feito a uma meia dúzia de empresas”, acusou.
Mas, afinal, as famílias angolanas estão mesmo mais pobres?
Sim. Os indicadores disponíveis confirmam que a pobreza se agravou em Angola na última década.
De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2023/2024 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), citado pelo jornal Expansão, as famílias angolanas estão efectivamente mais pobres e com uma esperança de vida mais curta. Angola ocupa o 150.º lugar entre 193 países analisados e o 14.º com maior taxa de pobreza multidimensional – que afecta 32,5% da população. Este índice vai além do rendimento, avaliando também o acesso a alimentação, educação, cuidados de saúde e habitação.
O Afrobarómetro reforça esta tendência: entre 2019 e 2022, a pobreza extrema no país aumentou de 35% para 44% da população.
Mais recentemente, o relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI 2024), publicado pela FAO, revelou que, em 2023, cerca de 28 milhões de angolanos – o equivalente a 79,2% da população – enfrentavam níveis moderados de insegurança alimentar. Polígrafo África