Quinta, 28 de Março de 2024
Follow Us

Sexta, 03 Janeiro 2020 16:55

Muçulmanos na província da Lunda Norte indignados com encerramento de mais uma mesquita

A comunidade islâmica da província angolana da Lunda Norte queixou-se hoje do encerramento de mais uma mesquita pelas autoridades, referindo ser um "ato ilegal" que os "priva totalmente" das suas liberdades de culto e religião.

Segundo o secretário da comunidade islâmica na província, António Muhalia, o encerramento da mesquita do bairro Camatundo, município do Chitato, aconteceu no dia 30 de dezembro de 2019 e decorreu sob "ameaças de responsabilização criminal" em caso de reabertura.

"E apelaram para cada mesquita receber um documento de encerramento e caso reabram serão responsabilizados criminalmente. A administração alega que foi uma ordem do Governo da província e não dizem mais nada", afirmou, em declarações à Lusa.

As queixas dos muçulmanos sobre encerramentos de mesquitas na Lunda Norte, leste de Angola, surgem desde finais de 2018, com o responsável a sublinhar que no total perto de 40 foram já encerradas, situação que os obriga a realizar os cultos em casa.

Um "Auto de Encerramento", elaborado pela Administração Municipal do Chitato, a que Lusa teve acesso, justifica que a comissão local da "Operação Resgate" encerrou a mesquita de Camatundo como "medida administrativa para a normalização da situação relativa ao exercício da liberdade de religião, crença e culto previsto na Constituição do país".

"O não cumprimento do presente comunicado a responsabilização dos seus líderes será de caráter criminal", lê-se.

Muhalia lamentou igualmente a falta de esclarecimentos do governo local, afirmando que em consequência do encerramento das mesquitas para os cerca de 10.000 muçulmanos que residiam na província, quase metade mudou-se para províncias vizinhas em busca de espaços para rezar.

"Nos vários encontros com o governo provincial, dizem ser uma ordem de Luanda, do Governo central, mas que custa perceber, porque em todas as outras províncias do país os muçulmanos rezam e a proibição é apenas aqui na Lunda Norte", lamentou.

Em outubro passado, os muçulmanos na Lunda Norte pediram a intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, na reabertura das dezenas de mesquitas encerradas, dizendo-se "discriminados" e classificados como "igreja de terroristas".

A diretora do gabinete da Cultura da Luanda Norte, Esmeralda Machimata, afirmou à Lusa, na ocasião, que na província os muçulmanos tinham as suas liberdades "salvaguardadas" e que "em nenhum momento" foram classificados como terroristas.

"A nível da província da Lunda Norte não foram apenas encerradas mesquitas, fechámos tantas igrejas e temos mantido comunicação com a igreja muçulmana. Agora quando dizem que estamos a chamá-los racistas ou terroristas, essas pessoas também deveriam ter um pouco de respeito porque estamos sempre a receber os dirigentes da igreja muçulmana", afirmou Esmeralda Machimata à Lusa.

A religião islâmica ainda não é reconhecida pelas autoridades angolanas.

A ex-ministra da Cultura angolana, Carolina Cerqueira, anunciou, em janeiro de 2019, no parlamento, durante a discussão na especialidade da Lei sobre a Liberdade de Religião, Crença e Culto, que o Governo "acompanha a evolução do islamismo no país" e que brevemente tomaria uma posição.

Rate this item
(1 Vote)