O funeral de Manuel Hilberto Ganga, única vítima mortal dos protestos antigovernamentais de sábado, realizou-se depois de a polícia ter feito um acordo com as centenas de participantes, no sentido de não realizarem a pé o percurso até ao cemitério.
A marcha, que saiu às 10:00 (09:00 de Lisboa) do quartel-general dos bombeiros da capital angolana, foi interrompida pela polícia, percorrido apenas um quilómetro, a que se seguiu um impasse de hora e meia. As forças de segurança, que mobilizaram para o local cerca de 30 agentes da Polícia de Intervenção Rápida e dois carros com canhões de água, alegaram que não tinham autorização para deixar passar uma marcha apeada.
Os participantes na marcha acederam a continuar até ao cemitério de Santana sem ser a pé, à exceção de Abel Chivukuvuku, presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), segundo partido da oposição, que foi também o único a tomar a palavra durante as cerimónias fúnebres.
Em nome da CASA-CE, Abel Chivukuvuku leu uma mensagem de louvor a Manuel Hilberto Ganga, destacando "o empenho e a dedicação" do dirigente da organização juvenil da coligação política, morto no sábado por efetivos da guarda presidencial angolana.
Oito militantes da CASA-CE foram surpreendidos por efetivos da Unidade de Guarda Presidencial a colar cartazes contra o rapto e presumível homicídio de dois ex-militares, há cerca de ano e meio, em Luanda.
Segundo a polícia, Manuel Hilberto Ganga foi abatido com um tiro quando tentou pôr-se em fuga, na sequência de uma ordem de detenção, quando surpreendido, juntamente com outros elementos da CASA-CE, a violar o perímetro de segurança da Presidência da República.
A chegada da urna com os restos mortais de Manuel Hilberto Ganga foi aproveitada por parte significativa dos participantes para gritar palavras de ordem contra o regime e o presidente José Eduardo dos Santos.
Já no cemitério, o único incidente registado envolveu uma equipa de reportagem da Televisão Pública de Angola (TPA), que alguns dos jovens presentes impediram de trabalhar, acusando-a de estar ao serviço do regime e de não dar espaço à oposição, e obrigando-a a abandonar o local.
LUSA