Milucha, que tem dois filhos em comum com José Eduardo dos Santos — Welwitschea ‘Tchizé’ dos Santos e José Paulino dos Santos ‘Córeon Dú’ — “quebra o silêncio” para pedir às autoridades angolanas para acabarem com o que chama de “insanidade”.
“Nenhum familiar pode visitar a sua tumba, sem autorização da Presidência da República. Será que é um procedimento normal? Eu não creio! Só se for uma prática satânica. Deixem que a alma do Presidente José Eduardo dos Santos descanse em paz e que a sua verdadeira família e amigos de todas as horas, ainda que contados a dedo, o chorem de uma só vez. Acabe-se por favor com tanta insanidade”, apela a advogada, numa nota tornada pública esta terça-feira.
No dia 8 deste mês, completaram seis meses desde a morte, em Barcelona, no Reino de Espanha, do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos; um acontecimento que a ex-companheira alega ter sido “forçado”, por se ter tratado de uma partida prematura do ex-chefe de Estado angolano.
“Ele ainda augurava ter a possibilidade de responder na PGR [Procuradoria-Geral da República] a seu pedido, a todas as dúvidas que houvesse a seu respeito e de se dedicar à FESA [Fundação Eduardo dos Santos], à Academia de Futebol [AFA] de que era patrono e a escrever as suas memórias na Fazenda Belo Horizonte”, revelou a advogada.
Maria Luísa Abrantes considerou como “extremamente lamentável” o facto de o Presidente João Lourenço ter consentido que a Casa de Segurança da Presidência da República, por intermédio do médico João Afonso, tivesse conseguido afastar os médicos espanhóis de José Eduardo dos Santos em Barcelona.
Segundo o testemunho de Milucha, tal situação impediu que José Eduardo dos Santos tivesse recebido “um tratamento adequado e uma alimentação controlada de que necessitava pela perda de apetite”. Tudo isso, afirmou, “acelerou a sua morte”.
“O Presidente José Eduardo dos Santos não padecia de nenhuma doença terminal, por isso in extremis, decidiram isolá-lo dos filhos e dos irmãos. Punham-no a dormir mais do que o habitual, saltando refeições, impondo um grupo de segurança não escolhida pelo mesmo (o grupo que levou foi escolhido por ele e havia elementos pagos por ele”, revelou.
Ainda segundo Milucha, a Casa de Segurança da Presidência da República substituiu, em Abril de 2022, isto é, três meses antes da sua morte, os filhos “por pessoas enviadas especialmente sem o seu consentimento, que sabiam de antemão que iriam agudizar o seu estado psicológico”.
Maria Luísa Abrantes denuncia a impossibilidade que tiveram alguns filhos de velarem o pai, mas, sobretudo, o facto de o seu cadáver manter-se na condição de prisioneiro até à presente data.
“Não satisfeitos, arrancaram o corpo da morgue sem tratamento apropriado, por meios enviesados do ponto de vista legal (um tribunal penal tomou decisões cíveis), não permitindo que a maioria dos seus filhos o pudessem sequer velar e acompanhar e mantêm-no prisioneiro até à presente data”, escreveu Milucha.
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