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Quarta, 13 Julho 2016 08:59

Que futuro depois de Angola?

Se existem poucas inevitabilidades na vida, uma delas é esta: qualquer economia, mais tarde ou mais cedo, entrará em declínio. Angola não foi excepção.

Todos os países atravessam aquilo que é chamado de ciclo económico – processo que é caracterizado por uma expansão económica, seguida de uma inevitável contração. Se existem poucas inevitabilidades na vida, uma delas é esta: qualquer economia, mais tarde ou mais cedo, entrará em declínio. Angola não foi exceção e todos sabemos que o tombo da performance económica é, em parte, explicado pela sua exposição e permeabilidade à cotação do barril de petróleo.

Alexandra Andrade | Econômico

As consequências são conhecidas, sendo que o impacto negativo que esta conjuntura continua a ter nas muitas empresas que investiram no mercado angolano – muitas vezes sem experiência prévia de internacionalização – tem tido como principal vítima os muitos profissionais portugueses que lá se encontram.

Falamos, portanto, de vários milhares de quadros que hoje procuram regressar a Portugal, sacrificando 30% a 40% da sua expectativa salarial, desde que o seu reenquadramento profissional possa ser feito de forma rápida e eficaz. Se é certo que o mercado português, ainda que em ligeira retoma, não tem as vagas necessárias para absorver todos estes profissionais, não é menos verdade que o caso ganha ainda contornos mais específicos quando falamos de quadros intermédios, médios e superiores altamente especializados.

Hoje em dia é muito natural uma ‘shortlist’ de candidatos para uma posição em Portugal ser composta por profissionais que ainda estão em Angola. Este facto revela uma clara vontade destes talentos em saírem desse mercado por razões que podem ir da falta de confiança na economia às expectativas defraudadas em torno do projeto que assumiram, passando pelo sentimento de insegurança que se vive no país.

Ora, se a grande maioria destes candidatos baixa a sua expectativa salarial, de modo a poderem estar alinhados com os valores praticados no seu país de origem – que mesmo assim não tem capacidade para os absorver –, que resposta devemos ter para esta complexa equação? A solução poderá estar, pelo menos a curto-médio prazo, nos mercados cujo ciclo económico se encontra, claro está, em expansão. Alguns exemplos: América Latina, onde se inserem países como o Chile, Colômbia, México ou Peru, e Ásia, com destaque para Hong Kong, que passou a ocupar o primeiro lugar no IMD World Competitiveness Scoreboard. Mas também Singapura, Taiwan ou Malásia, que vivem hoje momentos bastante interessantes do ponto de vista económico. E a este quadro podemos juntar ainda a Europa e o Médio Oriente, que embora competitivos do ponto de vista profissional, oferecem muito boas perspetivas a quem esteja disposto a fazer parte e a liderar projetos internacionais.

No entanto, não quero com isto dizer que o futuro dos milhares de quadros portugueses que pretendem sair de Angola tenha de passar pelos mercados externos, sendo-lhes vedada a hipótese de voltar a Portugal. Mas não seria intelectualmente honesto dizer que esta solução não precisa de ser equacionada, especialmente para profissionais com clara apetência para experiências internacionais, resolvendo assim dois problemas: o destes profissionais e o de Portugal, que atualmente não consegue aproveitar todo este potencial humano.

O futuro depois de Angola não tem necessariamente de ser cinzento. Para cada porta que se fecha, existe outra que se abre. A grande vantagem no mundo dos recursos humanos é que todos os dias são identificadas novas oportunidades, que apenas aguardam pelo ‘match’ perfeito. Portugal não é exceção, tal como muitos outros mercados que se encontram no topo da atratividade profissional a nível global.

 

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