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Quarta, 13 Julho 2016 09:06

O fenómeno "Shoprite"

As políticas públicas traçadas pelo Executivo têm vindo a mitigar o impacto da crise económica e financeira sobre a população. Ao contrário do que sucedeu com o colapso de alguns países da Europa,com manifesta incapacidade financeira para o pagamento de salários da função pública e socorridos pelo BCE e FMI, em Angola o Executivo tem vindo a honrar os seus principais compromissos: ora com salários, ora no serviço da dívida e esta estratégia tem tornado o país credível aos olhos dos mercados financeiros internacionais. Para além disso, defensores do pensamento keynesiano, os economistas do Executivo preferiram cortar a despesa do que aumentar a carga fiscal.

Eugénio Guerreiro | JA

As últimas intervenções públicas do Presidente da República sobre esta matéria foram esclarecedores e ajudam-nos a compreender a situação em que nos encontramos hoje. Todavia, também é verdade que os indicadores apontam para uma melhoria do cenário caso se mantenha a tendência de estabilização do preço do barril do petróleo na casa dos 60 dólares em 2017.

Ou seja, quando olhamos para o retrovisor ficamos claramente com a sensação de que o pior passou, embora o caminho se mostre ainda adverso. O recente comunicado do Ministério das Finanças é uma prova disso. Em rigor, a inversão do quadro económico depende, em grande medida, de algumas opções de política interna tendo em vista, antes de tudo, o crescimento económico mediante a promoção da produção nacional, a substituição ou redução drástica das importações pelo produto nacional e agregar valor aos bens locais para que estes sejam competitivos e transaccionáveis ao nível internacional, permitindo ao país captar divisas em outros sectores para além do petróleo.

Nunca como hoje se falou tanto em produção nacional e é urgente que esta assuma um papel relevante no cardápio de bens utilizáveis no nosso quotidiano. O jargão clássico da economia angolana, ditado pelo Presidente Neto, continua veementemente actual, ou seja, a agricultura é a base e a indústria o factor decisivo. 

Pelo menos do ponto de vista potencial temos condições para lá chegar, basta-nos operar algumas reformas no modelo de organização do sistema económico e financeiro. Não podemos promover a produção de mil milhões de ovos sem que haja o milho. Não podemos aumentar o turismo enquanto continuarmos com uma estrutura de custos elevadíssima e a maka dos vistos por resolver. Não poderemos industrializar sem o concurso do investimento estrangeiro directo, criando condições de mercado para a entrada dos grandes industriais internacionais. Não podemos diversificar sem o concurso dos maiores produtores mundiais em diferentes segmentos. Sim, no sector dos petróleos, que é a “galinha dos ovo de ouro”, encontramos a presença de todas as maiores empresas no mundo. Temos de admitir, noutros sectores, que o mesmo se faça, ou seja, abrir as portas ao investimento estrangeiro directo de forma massiva. E neste quesito, louvamos a visão do Executivo de reiterar, junto do FMI, completa disponibilidade para um programa de assistência técnica à diversificação.

Dos colossos da região, apenas o Hipermercado “Shoprite” encontra-se entre nós. Nos últimos dias, as redes sociais foram infestadas por uma carga de imagens retratando uma grande procura dos produtos num dos supermercados da capital. Desde logo, é bom notarmos que não se trata de qualquer medida de racionamento ou crise alimentar por escassez de bens, principalmente alimentares no mercado. 

Todos sabemos a razão daquela situação: a procura pelos populares dos produtos da “Shoprite” explica-se por uma estratégia comercial, muito comum nas grandes superfícies comerciais, que potenciam os seus ganhos pela venda massiva, ainda mais porque a marca sofria de uma imagem negativa que associava os seus produtos à baixa qualidade ou em estado indevido. Ora, este fenómeno é comum em qualquer parte do mundo. Quem nunca viu imagens da abertura dos saldos, em Janeiro e Agosto, em grandes metrópoles como Londres, Nova Iorque ou Paris? Em Portugal, por exemplo, o “Pingo Doce” apresentou durante algum tempo uma estratégia semelhante. Aqui há apenas uma diferença: naquele caso, os clientes são os consumidores finais que procuram principalmente electrodomésticos. No nosso caso são os pequenos comerciantes, maioritariamente ligados ao sector informal, que encontram naquela cadeia uma oportunidade para revenda. 

É necessário desdramatizarmos e não levarmos ao extremo esses caos pontuais, fomentando até uma certa agitação com impacto perverso sobre a confiança e pressionando a própria rede comercial e criando a ruptura de stocks.

 

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