Sábado, 05 de Julho de 2025
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Sábado, 05 Julho 2025 16:24

Angola e a OPEP: Entre política e economia — as fraturas internas no poder

A decisão de Angola sair da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) continua a gerar debates acesos, não só na sociedade civil, mas também dentro das próprias estruturas do poder. Num cenário de ambições políticas, instabilidade económica e pressões externas, torna-se cada vez mais evidente: esta saída foi uma manobra mais política do que económica — e está a revelar sérios conflitos internos no seio do Governo angolano.

O primeiro sinal forte veio do representante da UNITA, Rafael Massanga Savimbi, que classificou a saída de Angola da OPEP como “sem fundamento” e sem benefícios reais para o povo: A decisão não trouxe nenhuma vantagem palpável ao país. Foi um passo solitário, tomado sem considerar os interesses reais da nação. Savimbi defende que, na ausência de benefícios visíveis para a população, seria de esperar que o Executivo apresentasse um relatório público transparente o que até hoje não aconteceu.

Como resposta, o Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, vinculado ao MPLA, afirmou que a experiência de Angola na OPEP “não foi boa”, criticando o funcionamento da organização e classificando-a como “influenciada por interesses de cartéis internacionais: A nossa experiência na OPEP não foi das melhores… Não vimos vantagens em permanecer numa organização onde as decisões não favorecem todos por igual.”

A reacção rápida e dura do ministro só veio acentuar a falta de abertura do Executivo para o diálogo plural sobre o tema, sugerindo que o MPLA pretende evitar qualquer debate público estruturado sobre os reais motivos da saída. A forma como a crítica foi rejeitada expõe um receio político de contestação interna.

A disparidade entre os discursos da UNITA e do MPLA revela um claro desacordo dentro das elites políticas do país. Enquanto a oposição exige transparência e prestação de contas, a estrutura governamental parece optar por uma abordagem autoritária e unilateral. Nesse contexto, vários analistas começam a apontar para uma possível influência externa, especialmente dos Estados Unidos (sob administração Democrata), que têm interesse em reorganizar o mercado petrolífero mundial e promover projetos estratégicos como o Corredor do Lobito, com menor dependência da OPEP.

No meio da controvérsia, os factos do mercado falam por si. Segundo dados recentes, o preço do barril de Brent caiu para 67,19 USD, o que contraria o argumento do ministro, de que a OPEP era ineficaz para estabilizar preços e garantir receitas. Se os preços continuam em queda mesmo após a saída de Angola da organização, então fica difícil defender que a decisão trouxe benefícios económicos. Pelo contrário, parece confirmar que a oposição tinha razão, e que o país perdeu um importante mecanismo de proteção de preços e negociação internacional. Todos os elementos analisados indicam que a saída de Angola da OPEP foi, sobretudo, uma decisão política tomada em função de interesses estratégicos e alinhamentos internacionais, e não com base em necessidades reais da economia nacional.

O cidadão comum não sentiu nenhum benefício: nem nos preços dos combustíveis, nem no aumento das receitas públicas, nem no crescimento do investimento. Quem ganhou foram os decisores políticos, cujas escolhas parecem servir interesses externos, especialmente de aliados ocidentais com influência crescente sobre Angola.

Se Angola pretende reforçar a sua soberania e credibilidade económica, precisa de repensar a forma como decisões estratégicas são tomadas de forma inclusiva, transparente e com base em dados económicos concretos, e não por conveniência política. A falta de debate interno enfraquece a democracia, prejudica a confiança pública e isola o país dos verdadeiros mecanismos de cooperação internacional.  Por João Matamba

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