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Segunda, 26 Julho 2021 11:16

O MIREX e o SIE: Espionagem e Incompetência dos Diplomatas

As Embaixadas Angolanas transformaram-se em centros de concentração de espiões, de delatores, de desinformantes e de criadores de manobras e tácticas que possam desacreditar indivíduos com ideias construtivas e eficientes, que visam o bom andamento e funcionamento do MIREX, que a décadas está a deriva sem uma liderança capaz de organizar a instituição e de implementar mecanismos viáveis e estratégicos em prol dos interesses nacionais e das comunidades angolanas no estrangeiro.            

A nossa diplomacia é muito débil e a imagem de Angola no exterior está cada vez mais degradada, por um lado por causa da incompetência dos nossos Embaixadores, por outro lado não temos dentro das nossas Embaixadas e Consulados, especialistas em comunicação político-diplomática, em comunicação público-institucional, em comunicação e Marketing, especialistas em Psicologia Social e das organizações, capazes de invelterem as coisas a favor do nosso País na diáspora, o fracasso é mais que visível porque o MIREX faz as coisas em base ao critério “tráfico de influência”, corrupção, nepotismo e amiguismo.

O MIREX está tipo um quadro pintado a preto e branco, não valorizam as qualidades e as competências dos seus próprios cidadãos, àqueles que são enquadrados no MIREX entram por recomendações, por trocas de favores ou através de corrupção. E grande maioria desses mesmos funcionários do MIREX são tranformados em espiões. Praticamente quase todos (se não mesmo todos) os diplomatas angolanos (directa ou indirectamente) fazem espionagem, pouco entendem sobre diplomacia e sobre direitos humanos, caso entendessem iriam socorrer os angolanos nos momentos de aflição, dificuldades e necessidades.

 As nossas Embaixadas e Consulados são constituídas maioritariamente por agentes do SIE (Serviços de Inteligência Externa), todos esses fazem relatórios constantes mas são os Secretários e os Adidos Militares (incluindo os Ministros Conselheiros) que transmitem as informações privilegiadas à cadeira de comando do SINSE/SISM/SIE.

Na verdade os nossos diplomatas no geral fazem relatórios ligados à informações secretas ou a espionagem mas muitas destas informações não correspondem com a verdade, porque muitos desses nossos diplomatas não são especializados em espionagem ou seja não têm cursos de Alta formação, licenciatura, mestrado ou doutoramento em espionagem. A espionagem requer estudos e técnicas profundas para criá-las e executá-las com “perfeição”, requer muito conhecimento e domínio, da mesma forma que muitos se especializam em Direito ou em Economia, do mesmo jeito é necessário especialização em espionagem.

Grande parte dos nossos espiões não têm sequer ensino médio nem formação militar superior, e muitos desses são enviados pelo SIE para serem agentes diplomáticos e consulares, e esses mesmos agentes passam o tempo todo seguindo e fabricando informações sobre cidadãos angolanos na diáspora, com o objectivo de pontuarem aos seus superiores.

É bem verdade que a espionagem é um instrumento importante da Diplomacia, o uso da espionagem é essencial para a sobrevivência do Estado, é fundamental para a prevenção de possíveis ameaças e ataques contra a integridade e a segurança do Estado e das suas instituições contra inimigos internos e externos, mas os nossos dirigentes fazem tudo ao contrário, porque o SINSE/SISM/SIE em vez de procurarem realmente inimigos do Estado eles fabricam inimigos, e esses inimigos fabricados são na sua maioria os próprios cidadãos, assim fazem muitos dos nossos diplomatas que são enviados pelo SIE, eles perseguem o próprio angolano no exterior, inventam informações falsas sobre esses mesmos indivíduos.

O MIREX não é um Ministério autónomo, o MIREX vai de “pior ao fracasso total”, o MIREX não consegue tomar decisões que catapultem a imagem do País na arena internacional, e até parece que o MIREX não tem dirigente nenhum, olhem os nossos Embaixadores e Cônsules gerais estão aí para executarem interesses pessoais e partidários, têm pouco conhecimento sobre diplomacia, muitos deles são dirigentes em fim de carreira e são colocados alí como forma de aposentadoria, são diplomatas incompetentes, muitos estão acima dos 60 e 70 anos, tudo isso são indicadores de que o MIREX precisa não simplesmente de grandes reformas mas sim de uma revolução (mudanças a 360 graus) em todos os sectores e departamentos, e isso somente um líder tecnocrata-diplomático que não pertence ao MIREX será em grado de o fazer, um líder competente e dinâmico da sociedade civil.              

O MIREX está muito viciado, o próximo Ministro das Relações Exteriores de Angola deveria ser um cidadão independente, um cidadão altamente qualificado, que tenha domínio não somente em diplomacia mas também de outras áreas do saber tais como: Economia Internacional, Direito Internacional, Geopolítica, Projectação, Intelligence, Direito Constitucional, Comunicação e Propaganda (Marketing institucional e Psicologia Política), desse jeito alguma coisa poderia ser feito, porque o mais importante para um tecnocrata-diplomático são os resultados, por isso mais do que nunca este é o momento certo para o governo apostar em dirigentes jovens que não sejam ligados ao MIREX porque no MIREX quase todos aí estão viciados não seriam capazes de tomar decisões difícies.

O nosso sistema de governo (sistema monista/centralizado) também contribui para o fracasso do MIREX. Se quisermos ser completamente sinceros é fácil entender que os nossos Embaixadores além de serem diplomatas também são membros/funcionários do SINSE/SISM/SIE, tudo isso dificulta o crescimento e o desenvolvimento da nossa política externa, mas as coisas devem ser bem definidas ou és do SIE ou és do MIREX, por outra mais de 90% dos diplomatas angolanos são enviados para as Embaixadas e Consulados sob a orientação e recomendação total do SIE.

Falar do SIE (Serviços de Inteligência Externa) e falar do SINSE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) é falar praticamente da mesma coisa, na verdade o SIE  é um órgão do SINSE, do mesmo jeito o SISM (Serviços de Inteligência e Segurança Militar) é também (directa ou indirectamente) um órgão do SINSE, na prática é tudo SINSE, essa é a grande verdade apesar de terem siglas e significados diferentes mas o objectivo é o mesmo: proteger o Estado de tudo e de todos, e isso é da total responsabilidade do SINSE.

O SINSE na prática funciona como se fosse o órgão central do Estado, porque quase tudo é decidido ou influenciado por eles, como por exemplo nomeações de Ministros de estado, Ministros, Vice Ministros, Secretários de estado, Governadores, Vice Governadores, Directores Nacionais, PCAs, Reitores, Decanos, Chefes da Casa Civil e da Casa Militar da Presidência da República, acessores do Presidente da República, Embaixadores, Cônsules Gerais e tantos outros diplomatas, na prática é o SINSE quem decide directa ou indirectamente as nomeações dessas figuras. O SINSE tem muita influência na Administração do Estado, em tudo eles têm uma opinião ou decisão, nada passa despercebido do SINSE, o Presidente tem o SINSE como o seu porto seguro porque a sua segurança e a manutenção do seu poder depende também da actuação e intelligence do SINSE.

Em qualquer Embaixada é fundamental ter um Adido Militar, os Adidos militares também são chamados de Ministros da Defesa, mas de defesa não vê-se nada porque sem eles perceberem muitos dos funcionários estrangeiros que trabalham dentro das nossas instituições diplomáticas vazam várias informações para os seus Estados de origem, e os nossos Adidos militares não conseguem dar conta disso. Esses nossos Adidos militares não têm grandes técnicas sobre inteligência e contra-inteligência, por isso muitas das vezes não conseguem impedir fugas de informações das nossas Embaixadas. É mais que urgente limitarmos a empregabilidade de trabalhadores estrangeiros nas nossas Embaixadas.

Os Adidos militares geralmente são escolhidos pelo Ministério da Defesa, mas actualmente o Ministério do Interior também enviam Adidos militares para as nossas Embaixadas, mas esses Adidos sem excepção são espiões (não fazem diplomacia militar nem sequer sabem ou entendem o que é isso), estão mais preocupados com a vida privada e pública das comunidades angolanas, o mesmo fazem os Secretários das nossas Embaixadas e Consulados, sem nos esquecermos dos Ministros conselheiros, são todos funcionários do SIE.

Mesmo os Adidos da Cultura, os Adidos de Imprensa e da Comunicação, os Adidos das Finanças, os Adidos Administrativos e outros diplomatas não importa de que Ministério eles vêm (Ministério da Defesa, Ministério do Interior, Ministério da Cultura, Ministério das Finanças, Ministério do Território, etc) no concreto são todos funcionários do SIE, porque este é o modelo diplomático que agente segue, ou seja temos uma diplomacia baseada e enraizada na espionagem em vez de uma diplomacia focada na cooperação ao desenvolvimento e cooperação econômico-comercial. Precisamos repensar às nossas Missões diplomáticas, o MIREX precisa de liderança jovem, o MIREX necessita de mudanças, de mudanças reais e concretas só assim poderemos crescer diplomaticamente.

A diplomacia faz-se com coerência, programa, projecto, estratégias e organização, mas no MIREX não há ordem, vejam o que está acontecendo no Consulado Geral de Angola em Lisboa tem quatro (4) Vices cônsules: Dra. Alda Candeia (Vice-Cônsul para Registo Civil e Notariado); Dr. Carlos Santos (Vice-Cônsul para as Comunidades); Dr. Analberto Guilherme (Vice-Cônsul para Área Migratória); e a Senhora Conceição Mawete (esposa do ex Governador de Cabinda Mawete João Baptista), foi apresentada no passado dia 13 de Julho como a 4 Vice Cônsul. Em nenhuma parte do Mundo existe um Consulado com quatro Vices cônsules, mas como o MIREX funciona mal a décadas a desordem aí é total, tanto nas nossas Embaixadas quanto nos nossos respectivos Consulados, nada funciona correctamente, é urgente que se mude a dinâmica das nossas instituições diplomáticas e consulares.

Com a demissão do Embaixador Narciso do Espírito Santo da função de Cônsul Geral de Angola em Lisboa, espera-se que a nova Cônsul Geral (a Embaixadora Vicência Ferreira Morais de Brito) faça algo positivo nesse polémico Consulado de Angola em Portugal, espera-se que a corrupção (sobrefacturações) e as demissões ilegais de funcionários nesse Consulado tenham dias contados e que Ela mostre resultados significativos, mas se o próprio MIREX é desorganizado pouco se pode esperar dos nossos Consulados e Embaixadas.

 O MIREX precisa de novos autores no comando das instituições diplomáticas angolanas, os jovens precisam assumir a liderança das nossas Embaixadas, e que os nossos diplomatas façam diplomacia como deve ser, porque perseguir deliberatamente os próprios cidadãos não é a forma mais correcta de fazer diplomacia, repito a prática da espionagem  é fundamental em diplomacia (os Estados em parte dependem disso para a sua segurança e integridade territorial), mas a espionagem não se faz de qualquer maneira, tal igual o Direito a espionagem também tem regras e princípios, motivo pelo qual peço aos Secretários, aos Adidos Militares, aos Ministros Conselheiros e aos diplomatas no geral que façam mais diplomacia e menos espionagem contra os angolanos no estrangeiro, que mostrem mais trabalho e projectos político-diplomáticos em prol dos interesses nacionais.                                                                                    

Eu e a Diplomacia a Diplomacia e Eu

Por: Leonardo Quarenta – O Diplomata

Ph.D em Direito Constitucional e Internacional                                                                

Curso de Alta Formação em Conselheiro Civil e Militar                                  

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