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Terça, 02 Julho 2019 12:35

Samakuva pode ir ao 5.°mandato para provar que UNITA não é uma instituição forte

Estive a fazer mal as contas. Ontem disse que Samakuva pudesse ir ao 4.° mandato. Tinha feito mal as contas. Ele pode ir ao 5.° mandato, assim é que está correcto e dou já aqui uma pequena ajuda aos meus colegas jornalistas:

1 mandato: 2003-2007

2 mandato: 2007-2011

3 mandato: 2011-2015

4 mandato: 2015-2019

5.° mandato (se acontecer, espero que não aconteça): 2019-2023.

Isaías Samakuva terá feito um bom papel na união da UNITA, depois da morte, em 2002, do seu líder Jonas Savimbi. É quase consensual que Samakuva desempenhou um bom papel para que a UNITA não acabasse após Savimbi. Entretanto, a insistência em estar na presidência levanta muitas opiniões negativas contra a UNITA, por um lado, o próprio Samakuva acabou por perder autoridade moral perante a sociedade quando promoteu sair da presidência da UNITA, independentemente dos resultados das eleições gerais de 2017, e, por outro lado, o facto de o seu concorrente directo José Eduardo dos Santos, da altura, já não fazer parte da vida política activa.

Samakuva, se se candidatar, vai seguramente para o 5.° mandato, uma vez que, pela minha observação, os partidos angolanos (todos eles) ainda não pensam nos partidos como se de uma instituição forte se tratasse. Os partidos políticos angolanos seguem o "líder". O líder acaba por ser o omnisciente (sabe tudo), omnipresente (está presente em tudo) e omnipotente (pode fazer tudo). E ai daquele que falar mal do líder! É logo afastado, sem qualquer rodeios.

Viu-se um pouco com Abel Chivukuvuku (AC), na maneira como saiu da UNITA, e o que aconteceu com ele próprio (AC) quando saiu da CASA-CE. Muitos não seguem a CASA-CE. Seguem o líder Abel Chivukuvuku. No MPLA, é igual. O actual presidente do MPLA João Lourenço adoptou uma nova postura no seu partido, virada em apontar todos os defeitos de uma Angola incompetente ao seu antecessor José Eduardo dos Santos. E os que se manifestaram contra foram afastados. Não preciso de dar exemplo. Todo o mundo conhece a história.

Com a FNLA e o PRS, é exactamente igual. O partido é o líder. Ou seja, não temos partidos em Angola, como se de instituições sérias - independentemente das convicções dos líderes - se tratassem.

É o que acontece exactamente em Angola. Tudo gira a volta do presidente da República. É o PR que inaugura tudo. É o PR que fala sobre tudo, mesmo sem domínio das matérias, etc. João Lourenço é tudo. João Lourenço é o Executivo e é o MPLA. É um modelo angolano, no fundo, endeusar "líderes".

Vamos a Samakuva, o líder da UNITA insiste em não dizer se sai, desta vez, ou se fica. E isto tem provocado alguma suspeição interna na UNITA. Sinto que todo o mundo tem medo de mostrar que pode também candidatar-se.

Ontem o deputado José Pedro Kachiungo abriu o peito para dizer que vai avançar no Congresso de Novembro de 2019. Já tinha perdido para Samakuva em 2011. Há quem diga que não tem hipóteses de ganhar, se o líder Samakuva concorrer. Há quem diga haver candidatos a agir no silêncio para apresentarem as suas candidaturas em Setembro (data definida pela comissão eleitoral).

Fala-se que Samakuva não quer sair porque tem recebido apoios dos actuais responsáveis da UNITA que não quererão perder os lugares que têm nas decisões do partido. Ainda assim, aventa-se a hipótese de Raúl Danda, Adalberto Costa Junior, Lukamba Gato, Abílio Kamalata Numa, Rafael Massanga Savimbi, Alcides Sakala, Mihaela Webba e Liberty Chiaka concorrerem. Nenhum destes ainda assumiu que se vai candidatar. Fala-se que estão todos a agir no silêncio um pouco a contar também com o cenário da saída ou não do líder Samakuva.

Independentemente disto, fica claro para toda a sociedade honesta que uma possível insistência de Samakuva poderá mesmo facilitar a vida do opositor MPLA, uma vez que João Lourenço teria muitos argumentos válidos para "combater" o seu opositor directo em 2022.

Espera-se que, se Samakuva decidir sair - não estou a ver outra saída, a não ser que não goste da instituição "UNITA"! -, não se arranje um "delfim" na UNITA - para ser um pau mandado de Samakuva - como José Eduardo dos Santos tentou fazer com João Lourenço.

Que seja um novo presidente da UNITA - fora de Samakuva - com suas ideias próprias, sem precisar desclassificar tudo o que o seu líder fez no passado, coisa que João Lourenço não tem sido um bom exemplo, aliás nós não temos instituições fortes. O MPLA não é uma instituição forte. Samakuva tem a chance de provar que a UNITA é uma instituição forte. Caso contrário, mantenho a minha tese: temos apenas "líderes" (com as devidas aspas) fortes.

Carlos Alberto

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