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Segunda, 20 Abril 2015 20:13

Quem ganha com a falta de dólares em Angola?

Entram milhares de dólares todos os dias em Angola, mas ficam a circular na rua e os Bancos nunca os chegam a ver.

O Banco Nacional de Angola (BNA), por imposição do governo, obrigou a que as instituições financeiras de Angola passem a limitar as transferências em dólares para fora do país, para além de aumentar as taxas sobres estas transações. O motivo está interligado com a falta de dólares em Angola, pois a sua grande maioria entrava através da venda do petróleo.

Uma vez que o petróleo desvalorizou e a sua venda passou a rondar os 50 dólares, a economia angolana começou a ver-se privada da moeda mais utilizada em trocas comerciais para fora do país. Os Bancos ficaram com as suas reservas de dólares abaixo do esperado e as imposições para que seja utilizada em exclusivo a moeda nacional de angola, o kwanza, passaram a ser uma dura realidade. No entanto, todas estas restrições são facilmente contornadas através da troca de dólares nas ruas, basta recorrer a uma Kinguila.

A falta de dólares na banca angolana aumentou uma das maiores economias paralelas do país, o mercado cambial. Enquanto os Bancos em Angola estão a comprar dólares na ordem dos 109 kwanzas, na rua as Kinguilas estão a comprar cada dólar acima dos 150 kwanzas. As Kinguilas são as mulheres angolanas que se encontram nas ruas a trocar dólares e kwanzas principalmente a cidadãos estrangeiros, para além de venderem recargas para os cartões pré-pagos dos telemóveis. O valor que oferecem pelos dólares dos trabalhadores estrangeiros é muito maior do que alguma vez se pode conseguir recorrendo aos Bancos. Não é por acaso que diariamente entram milhares de dólares nas ruas, que nunca chegam a ser contabilizados na economia do país.

Quem ganha com tudo isto? Trabalhadores estrangeiros e líderes dos mercados paralelos. Como? Os trabalhadores podem trocar o seu ordenado em dólares muito mais inflacionados, aumentando assim o seu poder de compra no país. No entanto, e como as restrições para enviar dólares para fora do país é grande, acabam por ter de recorrer muitas vezes às kinguilas para trocar todas as suas poupanças em kwanzas sempre que viajam de volta para os seus países de origem, só que neste caso o câmbio é muito pior do que aquele que é praticado nas instituições financeiras. Por seu lado, quem controla as Kinguilas angaria valores elevados de dólares que podem ser utilizados em trocas comerciais que nunca passam pela supervisão do governo.

Em qualquer país, seja qual for a sua cultura, filosofia politica e económica, as restrições apenas ajudam a fomentar economias paralelas, seja qual for o tipo de mercado. Neste caso, enquanto a economia angolana se viu estrangulada com a queda do preço do petróleo, o mercado cambial das ruas desvia milhares de dólares para transações comerciais que nunca serão contabilizadas, que apenas servem os interesses de terceiros e nunca os interesses do povo angolano.

Por Antonio Felizardo

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