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Sábado, 14 Fevereiro 2015 21:19

Produtos importados estão a desaparecer de supermercados

A redução de importações decretada por Angola para combater a queda do preço do petróleo está a ter efeitos em Luanda. Em algumas grandes superfícies da capital angolana há produtos importados, como bebidas e artigos de higiene íntima, que estão a desaparecer das prateleiras.

O SOL foi a vários supermercados e notou, essencialmente, a falta de bebidas portuguesas. Gerentes e responsáveis pelas compras nesses estabelecimentos confirmaram que vários produtos já escasseiam nos armazéns - e antecipam que alguns produtos angolanos sofram uma grande subida de preços, prejudicando o consumidor final. No sector das bebidas há já marcas angolanas que aproveitaram a subida das águas importadas para alterarem o valor do seu produto.

Também a restauração sofre com a crise do dólar - nomeadamente espaços de luxo e especializados. Alguns gerentes desses espaços de Luanda afirmaram ao SOL: “Não tivemos alternativa senão aumentar os preços”. Os produtos que ainda se encontram em stock nos importadores, segundo os restauradores, “só estão a ser vendidos aos restaurantes que não têm dívidas com eles”.

No que diz respeito ao mercado informal, os preços de venda de produtos alimentares dispararam. No mercado de São Paulo, por exemplo, o valor de um frango inteiro quase triplicou. Um quilo de açúcar passou de 100 para 150 kwanzas (84 cêntimos para 1,26 euros). Uma caixa de 10 quilos de entrecosto, que custava entre 21 e 27 euros, está agora a 59 euros. Ainda no mercado informal, e devido à falta de divisas, o preço de venda de 100 dólares varia agora entre 17.500 e 18.500 kwanzas, quando a cotação oficial é de 10.500 kwanzas.

Contentores para Angola retidos no Porto de Lisboa

A redução das quotas de importação e a crise de divisas em Angola já está a ter efeitos nos exportadores portugueses. Ao que o SOL apurou, estão neste momento retidos no Porto de Lisboa pelo menos 100 contentores de mercadorias com destino a Luanda, cheios com óleo alimentar. Esta situação deve-se “à suspensão de licenças de importação em Angola”, explicou ao SOL uma fonte do sector portuário, que pediu para não ser identificada.

Contentores para Angola retidos no Porto de Lisboa

O óleo faz parte dos 27 produtos cuja importação por Angola vai ser reduzida, seguindo directivas do Ministério do Comércio angolano. A queda do preço do petróleo provocou escassez de dólares no país. Com as novas quotas de importação, as autoridades de Luanda quer restringir a saída de moeda estrangeira do país.

Além dos limites ao escoamento de produtos, a actividade dos exportadores é também afectada pelas dificuldades de pagamento no país. O presidente da Grimaldi Portugal, empresa que presta serviços de apoio à escala de navios, admite dificuldades em expedir mercadorias para Angola. “A informação que nos chega dos nossos clientes - transitários e exportadores - é que há grandes dificuldades e atrasos avultados nas transferências de divisas de Angola”, diz Marcello Di Fraia.

Estes “grãos de areia” nas exportações são gerados pela crise de divisas n país: “Motiva os atrasos nos pagamentos dos importadores angolanos aos fornecedores portugueses” e a carga só é “paulatinamente desbloqueada” quando há recebimentos.

Em entrevista ao SOL (ler edição em papel), o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, Paulo Varela, indica que as dificuldades de pagamento não são apenas do sector público, mas “também do sector privado”. E a cadeia de abastecimento em Angola já está a sentir efeitos.

SOL

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