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Segunda, 22 Fevereiro 2016 16:12

Publicitário brasileiro do MPLA e do PT com ordem de prisão

O publicitário brasileiro João Santana, que trabalhou nas campanhas de reeleição do antigo Presidente brasileiro Lula da Silva, da Presidente Dilma Roussef e do Presidente angolano José Eduardo dos Santos, recebeu uma ordem de prisão nesta segunda-feira, 22. 

Além da investigação que envolve campanhas do PT, objeto da 23ª fase da Lava Jato, o trabalho de Santana na disputa pela Presidência de Angola, em 2012, também é investigado pela Polícia Federal, num inquérito relacionado à eleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

A Polícia Federal acredita  que parte ou todo o pagamento pelo trabalho de Santana e da sua empresa Pólis em Angola poderá ter sido feito através de paraísos fiscais.

Na altura, informações oficiais revelaram que a campanha de José Eduardo dos Santos e do MPLA custou 20 milhões de dólares

Relatório sobre as ligações entre o publicitário e a Odebrecht assinado pelo delegado da PF, mostra proximidade entre o executivo da Odebrecht Jarbas Miranda de Sant'Anna com o publicitário, a quem chama de "amigo". Numa troca de mensagem entre os dois, o executivo da Odebrecht também se refere ao vice-presidente de Angola, Manuel Domingos Vicente, como “nosso amigo MV.”

O delegado lembra que Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras e colaborador da Lava-Jato, citou Domingo Vicente num dos termos de delação. Domingos Vicente foi presidente do Conselho de Administração da Sonangol, a petrolífera angolana, e teria dito a Cerveró, em 2005, que dos R$ 300 milhões pagos pela Petrobras à Sonangol pela compra de blocos de petróleo na África, cerca de R$ 50 milhões foram destinados à campanha do PT de 2006, que reelegeu o ex-presidente Lula.

"Causa estranheza que as informações sobre o atual presidente e vice-presidente de Angola cheguem ao conhecimento de João Santana através de um executivo da Odebrecht", diz o delegado.

O publicitário João Santana recebeu entre 2004 e 2015 R$ 193,9 milhões para fazer campanhas do PT. Da campanha de Haddad, em 2012, recebeu R$ 9 milhões entre agosto e novembro de 2012. Outros R$ 21 milhões foram pagos ao publicitário, em dezembro de 2013, pelo diretório municipal do PT em São Paulo. No total, foram R$ 30 milhões.

O delegado ressalta que não há indícios de que os pagamentos feitos a João Santana sejam ilegais, mas ressalta que "há forte probabilidade” de que os pagamentos que o publicitário recebeu no exterior tenha origem na corrupção na Petrobras e possuam "vinculação direta aos serviços por eles desempenhados em favor do PT".

O publicitário e o petista já foram ouvidos pela Polícia Federal em São Paulo. João Santana afirmou no depoimento que recebeu por seu trabalho na campanha do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, também realizada em 2012 - mesmo ano que a campanha de Haddad.

Os recursos teriam sido transferidos para o Brasil, segundo ele, de acordo com as regras do Banco Central. “O contrato com a campanha de Angola foi de U$ 20 milhões, pagos pelo partido MPLA, depositados numa conta da companhia no Banco Sol, em Luanda, capital de Angola. Desse total, US$ 16 milhões foram repatriados ao Brasil gerando uma guia de R$ 6,29 milhões em pagamentos de impostos”, afirmou o publicitário em nota divulgada na época.

Em nota, a assessoria do prefeito Fernando Haddad informou que ele não vai se pronunciar sobre as investigações e que os pagamentos ao publicitário foram feitos em reais, como mostra a prestação de contas encaminhada à Justiça Eleitoral.

Afirmou que “não há porque questionar a opinião do prefeito, uma vez que o próprio delegado Filipe Pace, da Polícia Federal do Paraná, deixou claro que não há indícios de ilegalidade nos pagamentos feitos a João Santana, no Brasil.

O publicitário está na República Dominicana, onde trabalha na reeleição do presidente Danilo Medina.

Campanhas

Após a reeleição do ex-presidente Lula em 2006, Santana trabalhou em outras sete campanhas presidenciais vitoriosas, incluindo as duas eleições de Dilma. Em 2012, ele ajudou a reeleger o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e, em 2013, atuou pelo sucessor de Chávez, o atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Santana também ajudou a eleger Medina em 2012 na República Dominicana e trabalhou na campanha vitoriosa de Maurício Funes à Presidência de El Salvador, em 2009. Em Angola, foi o marqueteiro do presidente José Eduardo dos Santos, em 2012.

Ele também atuou em sete campanhas de candidatos ao Legislativo na Argentina, entre 2003 e 2007.

No Brasil, Santana foi o marqueteiro das campanhas de Delcídio do Amaral (PT-MS) ao Senado, em 2002, e de Gleisi Hoffmann (PT) e Marta Suplicy (PT) às prefeituras de Curitiba e São Paulo, respectivamente, em 2008.

Outro lado

Em nota, a assessoria de imprensa da Polis Propaganda, agência do marqueteiro e de sua mulher, informa que hoje "o advogado do jornalista e publicitário João Santana, Fábio Toufic, divulgará um comunicado esclarecendo a posição de seu cliente em relação à operação feita hoje pela Polícia Federal".

O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou nesta segunda-feira que, no que diz respeito ao PT, todas as doações e contas de campanha foram feitas dentro da lei e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

"Do ponto de vista do PT, as nossas declarações foram apresentadas à Justiça Eleitoral, e todas as nossas doações são legais e declaradas à Justiça Eleitoral", disse Falcão.

Questionado por jornalistas sobre a suspeita investigada pela Polícia Federal de que os depósitos a Santana no exterior seriam, na verdade, pagamentos por serviços prestados ao PT, o dirigente do partido disse que é preciso que sejam apresentadas provas que as fundamentem.

"Aqui, de tempos recentes, quem acusa não tem mais que provar. Eu continuo defendendo direitos fundamentais de que quem acusa tem que provar, e as pessoas são inocentes até prova em contrário", afirmou.

Falcão conversou com jornalistas após evento na sede do partido em Brasília para a apresentação do programa de TV da legenda.

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