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Quinta, 07 Julho 2016 10:28

"O país precisa de se libertar de todos os medos" - Paulo Flores

Por ocasião do lançamento do seu último CD, intitulado "Bolo de Aniversário", o músico e compositor angolano Paulo Flores conversou com o Novo Jornal sobre o país político, social e cultural. Sem esquecer os ritmos e melodias que demarcam a sua assinatura artística.

Com temas como "O Baju" e "Trabalho", o álbum "Bolo de Aniversário" confirma a arte de Paulo Flores para traduzir por músicas o retrato do país. "Trabalho é um tema muito actual, que fala da queda vertiginosa da nossa moeda, do desemprego e de um "mangope" que procura trabalho em todo o sítio e só encontra numa casa de fotos de um chinês", assinala o compositor, que no novo disco também fala do fenómeno adulatório. "Baju fala dos bajuladores que passam por nossos amigos e só estão mesmo ali para espreitar, e como não têm nada para descobrir inventam".

Apesar do sentido aguçadamente crítico das suas composições, muitas vezes confundido com o exercício político de contracorrente, Paulo Flores demarca-se de derivas panfletárias.

"Estamos a falar de arte, de expressão livre, não é um discurso político. Este, eu deixo para quem sabe... É só a necessidade que o autor, o artista que quer fazer parte, que quer intervir, tem de criar equilíbrios que nos permitam a todos sonhar com dias melhores", defende o músico em entrevista ao Novo Jornal, publicada na edição n.º438, de 1 de Julho.

Embora reconheça que a participação no vídeo de apoio aos "revus" lhe trouxe algumas contrariedades - "Muita gente deixou mesmo de falar comigo", conta -, o compositor reitera a confiança numa Angola melhor.

"Espero sempre o melhor do meu país e das pessoas que têm responsabilidades nos destinos do mesmo", sublinha, sem esconder a frustração "por ver como tudo se tornou a favor ou contra, oito ou 80".

"Quem sabe um dia entendam que eu não estou contra ninguém, só quero lutar para que todos os meus concidadãos saiam inteiros na sua dignidade. Angola merece mais e melhores cidadãos e precisamos de lhes dar chance urgente", defende Paulo Flores, ainda "sem uma ideia clara que justifique o aparato" em torno dos "15+2".

"Sempre me senti livre para escrever ou cantar"

"Se calhar com outra abordagem, [esses jovens] poderiam ter uma participação mais cuidada na construção da nossa sociedade ainda que na oposição. Para mim, a discussão não estava no conteúdo do que diziam e pensavam, mas sim no direito que têm de pensar diferente e ser respeitados como cidadãos angolanos".

Apelando ao incentivo da criação livre, o compositor frisa que ao falar de repressão não está a reduzir o país a isso.

"Quando falo de repressão agora, também estou a dizer que acredito no meu país onde sempre me senti livre para escrever ou cantar, mas onde o contexto trouxe muitas formas de pressão sobre quem cria e sobre quem pensa, principalmente sobre quem pensa diferente".

Para além dos atropelos à liberdade de expressão - "falo disso porque acho importante chamar a atenção para no que nos podemos tornar se enveredarmos por esse caminho" -, o compositor aponta outros "desvios" ao rumo que gostaria de ver Angola seguir.

"Falta educação, acesso, dignidade. Falta a quem manda, se calhar, perceber que um país se faz com discussão e argumentação contrária, que o país precisa de se libertar de vez de todos os medos e traumas, e apostar nas suas pessoas".

Todas. Sem exclusão.

NJ

 

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