O investigador JR Mailey afirma que Sam Pa foi construindo ao longo dos anos uma importante rede de relações em África, sobretudo junto das elites políticas e económicas de países como Angola. Primeiro, fê-lo na qualidade de agente dos serviços de informações, mais tarde como negociante de armas. Foi esta rede que o tornou útil para empresas como a Sinopec, cuja relação é agora alvo de suspeitas das autoridades.
“Em Angola e no Zimbabué, poucos foram os dados dos contratos, relativos aos investimentos da Queensway, alguma vez revelados ao público”, afirma Mailey na sua investigação aos projetos africanos de Sam Pa. Em cada um destes países, são perto de 9 mil milhões de dólares que estão em causa.
Em países como a Guiné-Conacri ou Tanzânia, foram tornados públicos os contratos. “E os negócios revelaram ser flagrantemente desfavoráveis aos cidadãos do país anfitrião. Tendo alegadamente subornado responsáveis de governos africanos e entrado no tráfico de armas e diamantes, as operações da Queensway em África muitas vezes tiveram um impacto desastroso na governação”, afirma Mailey.
Através do China International Fund, Sam Pa envolveu-se nalguns dos maiores projetos de infraestruturas lançados em Angola nos últimos anos. O mais visível é o do novo Aeroporto Internacional de Luanda, cujos atrasos nunca foram cabalmente explicados.
O investigador norte-americano afirma que habitualmente os “projetos de construção de infraestruturas de alta visibilidade prometidos” não “se materializam”. “São frequentes alegações de corrupção de altos responsáveis do governo que controlam contratos de recursos naturais”, adianta.
“Empresas extrativas de boa reputação são afastadas do mercado, minando a saúde de longo prazo do sector dos recursos. E governos opacos prosseguem, alimentados pela infusão de apoio financeiro e material aos regimes no poder”, diz Mailey. O grupo Queensway é descrito como o “protótipo do investidor-predador”.
O próprio passado de Sam Pa está envolto em mistério. Já usou vários nomes e há informações contraditórias sobre a sua nacionalidade. Foi até já apontado como natural da antiga colónia portuguesa de Macau. Antonio Famtosonghiu Sampo Menezes é um dos nomes que terá usado.
Sam Pa, que tem nacionalidade angolana, foi detido a 8 de outubro, num hotel em Pequim. Depois de algumas notícias incriminatórias no verão passado o terem feito cair em desgraça, Sam Pa está agora oficialmente sob investigação. Terá movido influências junto da Manuel VIcente, então presidente da Sonangol e atual vice-presidente, para que a Sinopec batesse a concorrência estrangeira na compra de blocos petrolíferos e recebeu milhões em comissões, segundo a Justiça chinesa.
AM