O Bluegate está ancorado no porto do Lobito há três semanas. Ontem, Clayson Monyela, um representante do Departamento de Relações Internacionais da África do Sul, anunciou que iria reunir-se com as autoridades angolanas para pedir o repatriamento dos marinheiros. A decisão foi divulgada depois de o capitão da embarcação já estar hospitalizado e de a tripulação – onde estão cinco sul-africanos, um ganês e um queniano – ficar sem mantimentos a bordo.
“Um pouco tarde demais. É com o coração pesado, lágrimas de choque, tristeza e desespero que tenho que informar que o capitão Angus Gilbert morreu num hospital no Lobito. Ele deveria voltar à Cidade do Cabo hoje com a ajuda de um benfeitor que não quis se identificar, mas já era tarde demais. Ele faleceu na noite de quinta-feira”, lê-se naquela página de Facebook.
O Rede Angola falou por telefone com Rosemary Shapiro-Liu, em Sydney, Austrália, que conhece a família do capitão e é a responsável pela campanha no Facebook através da página citada. Rosemary Shapiro-Liu disse que a família na Cidade do Cabo acabou de saber da notícia e está devastada. “É chocante. Pessoalmente, acredito que isso poderia ter sido prevenido. O principal problema é que o dono do barco não assumiu a responsabilidade pelos seus tripulantes. É inacreditável, e o resto dos tripulantes ainda precisa de ser resgatado”, disse. Rosemary Shapiro-Liu afirmou ainda que as autoridades não agiram rápido o suficiente.
Segundo o site SA Labour News, o responsável pelo sindicato dos trabalhares SATAWU (na sigla original), Sprite Zungu, já tinha falado várias vezes com os tripulantes da embarcação Bluegate sobre o atraso do pagamentos dos salários.
“Estamos atentos às acções do proprietário desde que ele desapareceu depois de não pagar os salários aos seus trabalhadores”, afirmou. Depois de o navio ter zarpado, o proprietário apareceu “milagrosamente”, segundo o responsável, deixando o sindicato chocado por ter permitido que a tripulação ficasse retida num país estrangeiro.
“Condenamos fortemente a conduta do proprietário do Bluegate, que deixou os trabalhadores abandonados em Angola. Este é um acto malicioso e viola gravemente os direitos humanos”, disse.
O Bluegate saiu de Durban a 2 de Março com destino ao porto de Lagos, mas a meio da viagem ficou sem combustível, acabando por desviar-se para águas angolanas. Antes de se fazer à água, a tripulação comunicou ao dono do barco que o combustível e mantimentos disponibilizados não iriam durar até o destino.
RA