Terça, 30 de Setembro de 2025
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Terça, 30 Setembro 2025 10:46

TAAG acumula prejuízos de 1.753,2 milhões USD nos últimos 10 anos

Apesar do crescimento da facturação, de 2023 para 2024, em todos os segmentos de mercado onde a companhia áerea actua (intercontinental, regional e doméstico), o número de passageiros transportados pela TAAG no mesmo período baixou de 1,33 milhões para 1,25 milhões no ano passado.

 A situação financeira da TAAG continua a degradar-se de forma acelerada, como demonstram os seus relatórios anuais. Em 2024, a empresa que é totalmente controlada por capitais públicos viu o prejuízo aumentar para 134,2 mil milhões Kz (147,1 milhões USD), depois das perdas apuradas em 2023 terem atingido os 90,1 mil milhões Kz (108,7 milhões USD). Nos últimos 10 exercícios, entre 2015 e 2024, apenas por uma vez a TAAG registou lucros (de 500 mil USD, em 2022), enquanto os resultados negativos acumulados atingiram 751,6 mil milhões Kz ou 1.753,2 milhões USD, segundo os cálculos do Expansão com base nas taxas de câmbio de cada um dos anos.

O elevado valor dos prejuízos acumulados na última década coloca em causa o futuro da empresa e das suas operações, ao mesmo tempo que alimenta o debate sobre o futuro da TAAG e das empresas públicas em geral, sobretudo num contexto de menos recursos financeiros, contínuo despesismo em vários sectores da administração pública e ausência de uma estratégia clara sobre serviços e sectores prioritários e transparência na aplicação dos recursos públicos (ver página 2).

"O problema é transversal a todo o Sector Empresarial Público (SEP)", defende o economista Manuel Neto Costa.

"Não faz sentido manter um SEP que é sorvedor de recursos públicos substanciais sem que, entretanto, realize os objectivos económicos e sociais que ditaram a criação das empresas. O SEP, nessa situação, funciona como Segurança Social para os trabalhadores excedentários e instrumento de transferência de renda do Tesouro Nacional para particulares - estes sendo os beneficiários efectivos das empresas que contratam com as do SEP, até em negócios consigo próprio", assinala o antigo ministro da Economia e Planeamento.

Ao longo dos últimos 10 anos, a economia angolana lidou com uma prolongada recessão económica (entre 2016 e 2021) e com os efeitos alargados da pandemia de Covid-19, que tiveram um impacto global negativo no sector da aviação e também na actividade económica em geral.

Ainda que a TAAG tenha alguma relevância nas conexões interprovinciais e na coesão nacional (função que pode ser desempenhada por melhores estradas e caminhos-de-ferro, que são os meios mais eficazes, acessíveis e competitivos neste segmento), nas ligações aéreas com Portugal ou na entrada no País de trabalhadores estrangeiros qualificados, os elevados custos associados ao sector da aviação civil, as deficiências comerciais, a fraca qualidade dos serviços prestados e a má gestão têm impedido o crescimento da aviação em Angola.

Apesar dos elevados prejuízos registados, os custos com pessoal passaram de 55 mil milhões Kz para 83, 2 mil milhões Kz, um aumento que a administração da TAAG justifica pelo "aumento geral nos salários e, por outro lado, pelo incremento das ajudas de custo (deslocações e estadas), incluindo as relativas à tripulação, reflectindo o maior número de voos internacionais operados pela companhia em 2024, após o fim do contrato de locação com a Hi Fly no início do ano (Maio 2024)". Só as remunerações dos corpos sociais subiram de 2,1 mil milhões Kz (2023) para 2,9 mil milhões Kz em 2024.

Ao nível da facturação, todos os segmentos de mercado operados pela TAAG registaram um incremento nas receitas: as conexões intercontinentais valeram 235,2 mil milhões Kz (2024), depois dos 175,8 mil milhões Kz em 2023, enquanto o mercado doméstico passou de 36,8 mil milhões Kz (2023), para 44,8 mil milhões Kz no ano transacto. As ligações regionais renderam à empresa pública 93,3 mil milhões Kz (2024), depois de ter obtido 64,9 mil milhões Kz em 2023.

Estado paga tudo

Mas a deterioração da situação financeira da companhia aérea de bandeira não se verifica apenas nos resultados financeiros e na acumulação de prejuízos milionários.

De acordo com o relatório e contas de 2024, a dívida total a fornecedores, boa parte deles públicos, disparou de 99,3 mil milhões Kz, em 2023, para 240,3 mil milhões Kz no ano passado. Estes passivos incluem 10,6 mil milhões de Kz à SGA - Sociedade Gestora de Aeroportos (empresa pública que explora os aeroportos nacionais), 163,2 mil milhões Kz à Sonangol Distribuidora (que fornece os combustíveis para a aviação) e 678 milhões Kz em dívidas à Segurança Social.

As dívidas fiscais, avaliadas em 4,4 mil milhões Kz, dizem respeito a prestações não entregues ao Instituto Nacional da Segurança Social (INSS), relacionadas com o pagamento do IRT - Imposto sobre Rendimentos do Trabalho e são justificadas pela TAAG "em face das dificuldades de tesouraria impostas pelo contexto pandémico, o qual afectou de forma muito significativa a actividade". EXPANSAO

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