O caso Belma reacende o debate sobre o abuso de poder, a corrupção e a decadência moral de um sistema que devia proteger, mas se tornou cúmplice da injustiça.
Quando a farda falha ao juramento
O país acordou mais uma vez em choque. Uma jovem de 15 anos, conhecida como Belma, foi agredida e violentada por alegado agente da segurança pública no município de Viana, em Luanda Sul. A jovem, segundo relatos locais, estava à procura da casa do irmão quando foi abordada, sequestrada e brutalizada.
As imagens, que circularam nas redes sociais antes de serem removidas, revelaram uma violência inaceitável, física, moral e institucional. Belma sobreviveu, mas carrega marcas que nenhuma justiça apaga.
A mãe, vítima de acidente vascular cerebral (AVC), vive em condições de indigência, sem meios para garantir tratamento médico nem estabilidade.
O pai da jovem, por sua vez, foi detido quando tentou denunciar ameaças recebidas de agentes da própria polícia, um facto que revolta e indigna toda a sociedade.
Um caso que revela a podridão do sistema
O caso Belma não é apenas uma tragédia pessoal. É um espelho, duro e incômodo, da degradação das instituições e do desrespeito pela vida humana.
Não são todos, e é justo reconhecê-lo, mas há agentes da segurança pública que recebem propina de casas de prostituição e de drogas, que fazem da farda um escudo para o crime e do medo um instrumento de poder. Enquanto isso, o cidadão comum, que devia ser protegido, é humilhado, violentado e abandonado à própria sorte.
Quando o crime se esconde por trás da autoridade, a justiça perde o rosto e o Estado perde a alma.
A moral tornou-se um luxo
O que está a acontecer com Angola? O polícia pede gasosa ao médico. O médico exige dinheiro ao professor para ser atendido. O professor cobra ao polícia e ao cidadão comum para os filhos entrarem na escola.
O país está a tornar-se refém da corrupção quotidiana, onde cada serviço público é um negócio e cada valor moral é moeda de troca. Com a precariedade, a ética tornou-se um luxo e a vergonha, uma relíquia.
Justiça ou silêncio?
O DIIP de Viana confirmou há poucas horas a detenção de um dos envolvidos no caso, sem, contudo, revelar a sua identidade. A sociedade aguarda explicações. As famílias pedem justiça. E as instituições, mais uma vez, demoram a reagir.
O silêncio das autoridades é cúmplice. A cada dia sem resposta, a confiança do povo desmorona. O cidadão já não sabe a quem recorrer, e começa a temer mais o agente da lei do que o criminoso.
A vergonha que devora a nação
Um país não se destroi apenas com guerras. Destroi-se quando a lei se vende, quando a autoridade se prostitui, e quando a impunidade se transforma em rotina. Belma é o nome que hoje grita o que muitos têm medo de dizer.
Ela sobreviveu, e com ela, sobrevive a esperança de que ainda haja quem lute por verdade, justiça e dignidade.
Porque quando o crime veste farda, e o cidadão é preso por pedir proteção, não estamos diante de uma nação, estamos diante de um colapso moral.
Epílogo
Belma é o retrato da filha, da irmã e da cidadã que cada angolano devia proteger. O seu sofrimento denuncia não só os seus agressores, mas o silêncio cúmplice de um sistema que esqueceu o povo.
Se este país ainda tiver vergonha, é hora de a transformar em coragem.
Por Edgar Kapapelo / Observador

