O colapso, no último sábado, do edifício na Avenida dos Combatentes, disparou o alerta sobre o estado actual da maioria dos edifícios velhos da cidade de Luanda, o que pôs em prontidão as forças de defesa e segurança e instalou o medo no seio dos moradores destas unidades. À semelhança do prédio desabado, cujos escombros continuam a ser retirados do local, sem, no entanto, o registo de vítimas humanas, grande parte dos edifícios velhos de Luanda, segundo especialistas em arquitectura e engenharia, apresentam problemas que podem constituir perigo caso não se observem a necessidade de manutenção.
A maioria destes prédios foram construídos há mais de 50 anos. O desgaste das infraestruturas, por falta de manutenção, as alterações anárquica, o número excessivo de moradores e outras questões respondem pelo nível acelerado de degradação e perigosidade destas unidades como apontam os especialistas.
Contas feitas, apontam os especialistas, o caso de sábado não foi o primeiro. Luanda já tem outros históricos de edifícios que colapsaram, quer de forma parcial como na sua totalidade e com o registo de vítimas humanas e matérias. O antigo edifício da Direcção Nacional de Investigação Criminal (ex-DNIC) é dos exemplos mais acabados, com a desgraça de ceifar vidas humanas e um prejuízo material de grande vulto.
Velho alerta
A Ordem dos Arquitectos já deixou claro que a conversa da necessidade de manutenção dos edifícios velhos não é um assunto novo.
Vity Nsalambi é o vice-presidente da Ordem dos Arquitectos de Angola. Em declarações a OPAIS, reforça a ideia dizendo que a necessidade de manutenção não é um assunto destes dias. Trata- se de um alerta que vem de longe. Conforme explicou, a ordem tem vindo a alertar para a necessidade de criação de políticas públicas para avaliar aquilo que é a qualidade actual dos edifícios da cidade de Luanda.
Segundo o arquitecto, sempre que se pensa na construção de edifícios, é fundamental que se tenha em conta o processo de manutenção destas unidades.
Quanto aos edifícios velhos, Vity Nsalambi esclareceu que grande parte destes foram construídos na década de 50/60, pelo que há necessidade de se desenvolver estratégias no sentido de houver políticas públicas que permitam fazer a avaliação estrutural destes edifícios para garantir se ainda estão em condições de cumprir o seu papel de habitabilidade.
Segundo ainda o especialista, é preciso olhar para as estratégias desenvolvidas através de políticas públicas que orientem para a forma como se vai fazer a avaliação estrutural ou o estudo de diagnóstico destes edifícios, ver qual é o tempo de vida útil que ainda restam para estas unidades e ver a que medida é que pode ser tomada para os prédios em situações que o diagnóstico indicar ou recomendar algumas acções de mitigação dos danos. "E, aí, sim, podemos dizer que é possível depois definir que edifício é que se encontra em condições de habitabilidade e que edifícios é que não se encontram em condições. Então, é preciso que se desenvolva a estratégia neste sentido", apontou.
Manutenção preventiva
Já Bento Pequeno, também membro da Ordem dos Arquitectos, lamentou que a situação tem vindo a chegar ao extremo quando, na verdade, tem havido muitos apelos dos especialistas para a necessidade de manutenção dos edifícios velhos. "A Ordem já vem, ao longo dos anos, a bater nesta tecla. Mas, entretanto, fomos sempre ignorados. E esses edifícios todos foram construídos nos anos 40,60 e já é hora de se fazer manutenção preventiva", alertou.
Para Bento Pequeno, é necessário que se faça uma revisão generalizada em todos os edifícios velhos de acordo com a necessidade que cada um deles apresentar.
"Porque, ao longo destes anos todos, os edifícios velhos já começam a apresentar problemas sérios de infiltração e de estrutura. A maior parte dos edifícios da cidade de Luanda têm os padrões alterados. E isso constituí perigo", alertou.
Resolver resistência com diálogo
Por seu lado, Pedro Teca, engenheiro, pensa que os edifícios velhos em Luanda carecem de um acompanhamento sério no que a manutenção diz respeito. Segundo o especialista, é preciso que o Governo tenha coragem de desenvolver um estudo profundo sobre a situação dos prédios velhos dado o tempo de vida que estás unidades têm, acima dos 60 anos. Para ele, o estudo deve envolver especialistas, o Executivo e os próprios morado- res, porque estes, com receio dos problemas que enferma o sector habitacional, ficam com receio de serem transferidos para outras áreas, mesmo que estejam sob perigo. OPAIS