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Sábado, 16 Mai 2020 14:15

Prostitutas angolanas à caça de clientes em pleno estado de emergência

Ao cair da noite, muitas mulheres aglomeram-se em pequenos grupos, à beira da estrada, no famoso bairro “Povoado”, a escassos metros da Centralidade do Kilamba, no distrito de Belas. A prostituição é realizada em plena fase do Estado de Emergência.

“Oh! Pai baza?”, solta uma jovem com cabelos pintados a loiro. “É só dois mil e 500 kwanzas e vamos aí dentro “. A entrada seria para um quintal em obras, para a consumação do acto. O repórter declinou, justificando a sua indisponibilidade.

À primeira vista, podem ser confundidas com transeuntes da zona. Engano! Na verdade, são “trabalhadoras do sexo”; vivem desta prática há longos anos.

Muitas perderam a conta de quando entraram no negócio. Elas acenam e convidam o homem que se aproxima. À saída para o quintal ou outro lugar acontece depois de acertos. Na sua maioria, são jovens, vestidas de calças ou saias curtas.

São 20 horas de quinta-feira, 30 de Abril. À medida que o tempo passa, mais prostitutas chegam ao local. Estamos em fase de confinamento obrigatório, cumpre-se o Estado de Emergência.

As prostitutas parecem, contudo, não se importar com o momento, não ligar aos riscos! Mizé Caria, 25 anos, é uma destas mulheres. Tem um filho e está na actividade há muitos anos. Ela conta que, para a satisfação dos clientes, pede quatro mil e 500 à hora e 10 mil uma noite. Mas, em fases como esta, “dois mil kwanzas também é dinheiro”, disse.

Há muito tempo que Mizé perdeu o medo e o pudor, como diz, a esbanjar gargalhadas. Reconhece estar em incumprimento com o Estado de Emergência. “Mas, mano, aqui sai o pão”, justifica-se. De repente, uma viatura da Polícia, com as sirenes ligadas, passa. A jovem está intacta e calma. Afirma estar habituada às corridas. Quando a situação aperta, simula ser moradora da residência ao lado.

Entretanto, uma viatura estaciona. Ele vai ter com o condutor. Começa uma negociação. Ela afirma que foi acordado 20 mil Kwanzas, para passar a noite, numa residência dentro do Kilamba.

No mesmo espaço “trabalha” outra jovem. Diz chamar-se Meury e conta que, para ter clientes, precisa de juntar alguns atributos. “Há quem gosta de mulheres gordas, fininhas. Mas ser meiga e tolerante atrai o cliente”, acrescentou.

Meury, 23 anos, cinco a prostituir-se, alega, para estar na rua, falta de emprego e a necessidade de ajudar a sustentar a família. De estudos não quer saber. Afirma que estão fora do seu plano.

“Ganho, às vezes, 20 mil Kwanzas por dia, de quinta-feira a domingo. É mais do que recebe muita gente que trabalha todos os dias e atura a mania dos patrões”, disse, orgulhosa.

Já Benvinda, 27 anos, tem dois filhos. Começou a prostituir-se por vício, pelo dinheiro e lucro rápidos. Passaram-se anos e nunca mais conseguiu sair da actividade.

Ela cobra pelo serviço o mesmo que as colegas. Sem medo de doenças, afirma que pode não usar preservativo, quando o valor é alto. “Depen-de de um acordo entre as partes”, explica.

 Vou fazer o quê? Há clientes que querem sem a camisinha. Eu quero dinheiro. É só negociarmos”, disse, na maior à vontade.

Encontro no Povoado

O Povoado está localizado nas cercanias da centralidade do Kilamba. Convergem para aquele ponto prostitutas oriundas de Cacuaco, Viana, Rangel e outras zonas. Transportadas em táxis, elas chegam ao local para uma permanência de pelo menos quatro dias. Muitas arrendam quartos, entre amigas, onde ficam durante os dias de prostituição. O lugar já foi mais movimentado, como esclarece uma das “funcionárias”. Acrescenta que os clientes são, maioritariamente, moradores do Kilamba.Neste momento de quarentena, as prostitutas também usam as redes sociais, nas quais deixam o endereço e contactos para eventuais contactos.

Cerca de dois mil e 500 Kwanzas é o valor que o cliente paga por uma hora. Para qualquer coisa mais do que sexo propriamente dito, o preço sobe para 6.000 kwanzas.

Por uma noite, a prostituta chega a cobrar 20 mil Kwanzas, sem contar com os gastos com comida, bebida ou outros caprichos. As mais cobiçadas pedem acima disso, atingindo mais de 30 mil Kwanzas.

Em Angola, a prostituição não está tipificada como crime, embora possa ser avaliada como atentado ao pudor. O sociólogo Jorge Camuti disse que fica difícil acabar com a prostituição no país, enquanto a miséria prevalecer.

“Reduzir este fenómeno depende muito da melhoria das condições de vida no país”, disse. Porém, lamenta que, em plena quarentena e quando se faz uma cruzada contra a Covid-19, haja jovens a se prostituir. O sociólogo alerta para a necessidade de intervenção das forças de segurança.

Dados apontam que, pelo menos 10,5% das "trabalhadoras de sexo" de Luanda, Benguela, Cabinda, Cunene e Bié são portadoras do HIV/Sida, 2,6% deste grupo vivem com sífilis activa.

Há ainda informações segundo as quais há uma prevalência 7,8% entre as mulheres 2,4% entre os homens que fazem sexo com outros homens.

O município de Viana, em Luanda, é tido como o de maior índice de prostituição, em Angola. JA

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