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Terça, 04 Fevereiro 2014 21:50

O 4 de Fevereiro entre nós

O MPLA e a FNLA, dois partidos políticos históricos de Angola, continuam a digladiar-se pela paternidade do início da Luta Armada pela Independência de Angola, mas o debate começa por perder interesse, devido à publicação de determinadas obras literárias que põem água sobre a fervura.

Durante anos, o MPLA afirmou ter sido sob sua liderança que se deu o ataque às cadeias da PIDE/ DGS, onde se encontravam nacionalistas presos, aparentemente sem culpa formada, mas a FNLA diz não ter sido assim. A questão está a perder interesse, na medida em que os historiadores, alguns dos quais altos responsáveis e sobreviventes da própria acção, têm estado a desmistificar a data, quanto à sua paternidade, fazendo pender a balança a favor da UPA (União dos Povos de Angola) que, mais tarde, se converteu, através da função, com o PDA, em FNLA.

Citam-se, por exemplo, os documentos da então direcção do MPLA compilados por Lúcio Lara, antigo secretário-geral e membro do Comité Director do partido, no seu livro, Amplo Movimento, Volume I. Nesta obra, o autor estampou um comunicado emitido pela direcção do MPLA nos momentos que se seguiram aos acontecimentos do dia 4 de Fevereiro de 1961, afirmando que o partido no poder tomou conhecimento do ocorrido através da imprensa.

Carlos Pacheco, escritor português, afirma, num dos seus livros, que "quando detonaram os motins de 4 e 10 de Fevereiro de 1961, em Luanda, esse agrupamento político (MPLA), superiormente dirigido por Viriato da Cruz, se achava confinado na Guiné-Conacri, ainda em fase embrionária, sem implantação em Angola. Nesta ex-colónia portuguesa, avança o escritor, reinava a UPA, apoiada por grupúsculos clandestinos que cedo desapareceram engolidos pela vaga de prisões, em 1959". Estes extractos, segundo críticos, leva à conclusão de que o MPLA, então liderado por Mário Pinto de Andrade, no exílio, nem se quer sabia o que iria acontecer no dia 4 de Fevereiro.

Por outro lado, Jaime Araújo, conceituado político e nacionalista sobrevivente do 4 de Fevereiro, afirma, no seu livro Voz Sem Eco, não ter sido o MPLA que orientou o início da Luta Armada, mas sim a UPA, e coloca entre os expoentes máximos da acção o malogrado Cónego Manuel das Neves.

Hoje, as dissonâncias são cada vez mais evidentes em relação à história ensinada nas escolas, desde a independência, em 1975, e pede-se urgência na correcção da história, sob pena de mutilação do consciente das gerações vindouras.

Assim, não havendo qualquer interesse na discussão sobre a paternidade do acto, importa preservar, com carinho, o feito histórico e valorizar os heróis, dos quais, segundo informações, apenas 32 ainda estão entre nós. Os mesmos, segundo dados do Agora, se queixam de várias dificuldades, por lhes ser prestada pouca atenção.

Reclamam, com frequência, dos baixos subsídios e da falta de hospitais para o tratamento. Sobre este assunto, alegam que o marco histórico do Cazenga tinha sido proposto para ser transformado num centro hospitalar para eles e as suas famílias, mas, segundo alguns, o Executivo negou-lhes esta possibilidade.

De acordo com uma das versões sobre a data, O 4 de Fevereiro deu-se também na ressaca da revolta dos camponeses da companhia algodoeira COTONANG, a 4 de Janeiro do mesmo ano, em Malanje, que, por reivindicarem os seus direitos, foram massacrados.

Enquanto duravam as operações de contenção da revolta de Cassanje, no dia 4 de Fevereiro, um grupo de cerca de 200 angolanos, repartidos em subgrupos, decidiu-se a atacar a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7ª Esquadra da Polícia, a sede dos CTT, bem como a Emissora Nacional de Angola. Dos principais responsáveis, fala-se de Neves Bendinha, Imperial Santana, Cónego Manuel das Neves. A acção, conforme escritos de IkO Carreira, antigo ministro da Defesa Nacional, teve por objectivo libertar alguns detidos, mas, devido à presença de jornalistas que aguardavam pelo barco Santa Maria, sequestrado pelo capitão Henriques Galvão, que simulou atracar em Angola, enquanto se dirigia para o Brasil, a data teve outro impacto.

O acto não foi nem teve em si mesmo um êxito, quanto às intenções iniciais, porque os guerreiros não foram capazes de libertar os presos mas, de acordo com o deputado Manuel Pedro Pacavira, acendeu a chama da liberdade.

AGORA

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