Sábado, 20 de Abril de 2024
Follow Us

Segunda, 25 Novembro 2013 18:12

Reconciliação silenciosa entre Angola e Portugal em marcha

O pior da “turbulência” entre Luanda e Lisboa terá passado e as duas capitais têm neste momento a funcionar uma “diplomacia do silêncio” para restabelecer o elevado nível de cooperação.

António Martins da Cruz, antigo ministro português dos Negócios Estrangeiros, fez a revelação numa conferência, na segunda-feira, na Universidade Lusíada de Lisboa, e ouviu o adido de imprensa da embaixada de Angola confirmar implicitamente os contactos.

No encontro sobre 'O actual estado das relações Portugal-Angola', o embaixador José Marcos Barrica fez-se representar por Estêvão Alberto, que disse ser necessário “deixar que os contactos diplomáticos evoluam com naturalidade” entre os dois Governos, subscrevendo a ideia de que uma “diplomacia do silêncio” está em marcha. “Pretende-se a melhoria das relações entre Angola e Portugal”, disse o adido de imprensa.

Martins da Cruz considerou que o fim dos editoriais inflamados do Jornal de Angola e a recente declaração do ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chikoti, de que este prepara uma comunicação para o homólogo Rui Machete, são sinais de desanuviamento. O ex-chefe da diplomacia lusa foi mais longe e afirmou que a missiva prevê o restabelecimento de um diálogo preparatório com vista à realização da cimeira luso-angolana e que equipas dos dois países trabalham já na organização do encontro, inicialmente marcado para Fevereiro de 2014.

“Uma diplomacia low-profile evitou a desconstrução das relações dos dois países, para desgosto de alguma imprensa e de alguns comentadores”, afirmou Martins da Cruz. “A crise está a encerrar-se”, reforçou.

Antes, Martins da Cruz apresentou um diagnóstico do “mal-estar angolano”, responsabilizando elementos do Ministério Público luso pela divulgação junto da imprensa de dados sobre investigações contra altas figuras do Estado angolano e criticando o uso de Luanda como “arma de arremesso entre partidos políticos” portugueses.

Imagens lesadas

Na conferência moderada por José Francisco Pavia, director do Centro Lusíada de Investigação em Política Internacional e Segurança, Martins da Cruz indicou ainda os riscos corridos por Lisboa e Luanda durante as últimas semanas. Para os portugueses, a crise “pode ter reduzido a percepção de países terceiros em relação à capacidade de interlocução de Portugal junto de Angola e de outros países”. Já Luanda arriscou lesar a “afectividade” que é “base” para a “relação especial” entre os dois Estados e para a forte presença dos portugueses no seu país.

Ainda na conferência, António Cunha Vaz, líder de uma das principais agências de comunicação portuguesas, também presente em Angola, considerou que uma “excitação” nas imprensas dos dois países “colocou em risco relações que estavam em construção há muito tempo”.

No entanto, responsabilizou também elementos do Ministério Público pela crise e sobretudo pelas fugas de informação, afirmando que “não são crescidinhas” as pessoas a cargo da investigação judicial em Portugal. “Um dia vamos perceber qual foi o seu intuito”, disse.

Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Rate this item
(0 votes)