A informação foi divulgada em comunicado pela Secretária de Imprensa da Presidência da República.
O Porto de Lobito é uma empresa pública de grande dimensão, dotada de personalidade jurídica, autonomia e poder administrativo, financeiro e patrimonial, possui principais infra-estruturas, o terminal polivalente (carga geral e contentorizada), o mineraleiro e o Porto seco.
Porto do Lobito e o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) são pontos-chave do Corredor do Lobito, que (re)colocou a cidade homónima no centro de um despique global.
Em Janeiro de 2022 o governo angolano realizou o concurso internacional para a gestão do terminal multifunções do Porto do Lobito tinha sido ganho pela China International Trust Investment Corporation (CITIC) e pelo Shandong Port Group (SPG), pouco mais de dois anos depois, as empresas chinesas desistiram do negocio e entrou a empresa de origem francesa Africa Global Logistics (AGL) na gestão do terminal.
A rápida saída das empresas chinesas daquele negócio nunca foi explicada oficialmente, mas tudo indica que a desistência foi essencialmente motivada por pressões e razões estratégicas e geopolíticas.
Nas últimas décadas, sobretudo após 2002, várias empresas chinesas foram-se posicionando no Corredor do Lobito e naquela região. A própria reabilitação da linha férrea do CFB no pós-guerra foi realizada com financiamento daquele país. Esta realidade foi depois reforçada com a iniciativa "Nova Rota da Seda", promovida oficialmente pelo governo chinês, que prioriza um conjunto de investimentos globais em transportes (estradas, portos, ferrovias) e centros logísticos financiados ou apoiados pela China.
Com a presença local cimentada e as boas relações entre os dois governos (sendo que a China é o maior credor de Angola, que deve mais de 17 mil milhões USD àquele país), os investidores chineses esperavam garantir o envolvimento directo na gestão privada no Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e no principal terminal do Porto do Lobito.
O primeiro sinal contrário para os interesses asiáticos surgiu com a entrega, em Julho de 2022, da gestão do transporte de carga no CFB a um consórcio privado de origem ocidental, que inclui as multinacionais Trafigura, Vecturis e Mota Engil (ainda que mais de 30% do capital desta empresa esteja em mãos chinesas).
Este consórcio deu origem à empresa Lobito Atlantic Railway (LAR), que também já está em actividade. O despique entre interesses globais em território nacional não é novo, pelo contrário, é histórico e com vários séculos de acontecimentos, mas os desenvolvimentos geopolíticos mais recentes, incluindo a questão das alterações climáticas, acenderam vontades adormecidas ou colocadas em segundo plano ao longo dos últimos tempos.