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Quarta, 27 Abril 2022 16:10

MPLA acusado de obrigar os estudantes e funcionários públicos" a ir às suas actividades

Uma publicação na página que o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, mantém no Facebook deu o mote: Trata-se de um vídeo em que se pode ver e ouvir uma conversa que alegadamente aconteceu na província de Cabinda:

"É documento, sim é documento. É obrigatório. Se não for tem falta. Ela é professora. Isso é sério. Isso é coação moral. MPLA não se pode comportar assim". As reacções não se fizeram esperar. Mas o MPLA nega. E garante que ninguém foi ou é forçado a ir às suas actividades políticas.

O "post" tem quase 4.000 comentários, uns contra, outros a favor, uns a afirmar que isso sempre aconteceu, outros a negar que alguma vez tenha acontecido.

Do lado dos partidos, UNITA, PRS e Bloco Democrático insurgiram-se, dizendo que as "velhas práticas" de encerrar escolas e instituições públicas para actos de massas do partido no poder voltam a ganhar relevância nos últimos tempos, e numa altura em que o próprio MPLA lançou um debate na Assembleia Nacional sobre a transparência eleitoral, contrariando este princípio.

Um deputado da UNITA, Diamantino Mossokola, afirmou que "isso de condicionar os estudantes e funcionários públicos para actividades partidárias não é transparência".

"Isto afecta sobremaneira o espírito do que se quer: que as eleições sejam livres e transparentes", referiu o deputado, que reprovou este comportamento, apelando aos angolanos a terem coragem e não aceitarem ir "à força lá onde não querem ir".

"Ninguém pode temer mais, faltam poucos meses para a alternância ao poder. As pessoas tenham a coragem de publicar essas notas das escolas e dos outros estabelecimentos públicos que obrigam os funcionários públicos a participarem nas actividades partidárias", concluiu.

Raul Tati, deputado da UNITA eleito no círculo provincial de Cabinda, disse que recebeu uma denúncia de que os efectivos das FAA estacionados em Cabinda foram seleccionados nos quartéis para reforçarem a moldura humana no comício realizado no dia 23 deste mês, pelo presidente do MPLA, João Lourenço.

Para o efeito, segundo o deputado "foram distribuídas camisolas e bonés do partido MPLA e os militares devidamente instruídos sobre a postura que tinham de exibir, fazendo-se passar pela população de Cabinda".

A direcção do MPLA em Cabinda já desvalorizou tais informações, sustentando que ninguém forçou pessoas para assistir ao comício presidido pelo líder do MPLA, João Lourenço.

"Os militantes do MPLA foram em massa para receber o líder e ouvir as principais linhas orientadoras do partido, tendo em vista a preparação das eleições gerais previstas para o mês de Agosto deste ano", disse ao Novo Jornal um membro da direcção do MPLA em Cabinda.

Mas outro deputado da UNITA, Ernesto Mulato, diz que esta "é uma prática antiga".

"Só que antes ainda tinha certa aceitação social e agora essa aceitação está a desaparecer", disse ao Novo Jornal, frisando que "mesmo aqui em Luanda, os dirigentes sérios do partido no poder sabem das suas dificuldades neste sentido".

Na sua opinião, o MPLA não se pode queixar porque as suas autoridades administrativas fazem coisas que afastam as populações da sua afeição ao partido.

"A título de exemplo, num momento em que vão as eleições ainda têm coragem de demolir casas de cidadãos e sem qualquer preocupação pelo seu futuro e para os desprezar, leva-os para uma localidade sem condições", apontou.

"Pensavam encontrar casas, pois existem muitos condomínios desocupados, mas na prática receberam parcelas de terra de cinco metros quadrados e foram oferecidas às famílias três chapas de zinco", lamentou.

Para o deputado, desta vez vai ser um "caso sério" porque as populações não estão disponíveis para mais uma manobra, por isso terá de se ver bem o processo eleitoral e o processamento dos resultados.

O secretário-geral do PRS, Rui Malopa Miguel, disse que "é muito difícil o MPLA abandonar os princípios do comunismo, que é responsável por estas práticas".

"Os membros do MPLA estudaram muitas teorias socialistas e há dificuldades de incorporarem conceitos sobre a democracia", apontou, salientando que, quando se assiste a actos políticos do MPLA, a tendência é forçar as pessoas porque de outra maneira não é possível.

"Se hoje o partido no poder decidir realizar um acto público, e se não for por pressão, não terão gente suficiente para a realização do acto", acrescentou.

O secretário-geral do Bloco Democrático (BD), Muata Sebastião, diz que é uma falta de respeito encerrar instituições administrativas e escolas por causa de actos políticos do MPLA.

"Isto é falta de respeito pelas instituições. Não se pode suspender actividades administrativos devido a uma actividade de um partido político", criticou o político.

De acordo com o secretário-geral do BD, muitos responsáveis e funcionários públicos acham que isso é "muito normal", mas prejudica a maioria da população.

"Isso desmascara os discursos de que o MPLA é um partido de milhões e contra milhões ninguém combate. Não precisa de pedir empréstimos para encher os seus comícios", concluiu. NJ

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