Segunda, 15 de Dezembro de 2025
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Segunda, 15 Dezembro 2025 13:14

Marcolino Moco acusa João Lourenço de "personalização do poder"

O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco reagiu de forma crítica às declarações do presidente do MPLA da República, João Lourenço, proferidas no comício de sábado, 13, em Luanda, alusivo ao 69.º aniversário do partido no poder, considerando que o discurso confirma uma opção clara pela “personalização do poder” em Angola, com impactos negativos já visíveis no plano político, económico e institucional.

Numa análise extensa e contundente, Marcolino Moco sustenta que, passados 23 anos desde o alcance da paz, o país continua bloqueado por uma excessiva centralização do poder e por uma distribuição desigual dos recursos nacionais, situação que, no seu entender, se agravou no actual ciclo de governação.

Para o antigo governante, o problema central não reside apenas nos quase 50 anos de governação do MPLA, mas sobretudo na forma como a paz foi gerida politicamente, permitindo o surgimento de práticas que travam o desenvolvimento do país.

O também ex-secretário-geral do MPLA traça paralelos com regimes africanos de natureza personalista, alertando para os riscos históricos e humanos desse modelo de poder, tanto para os próprios líderes como para as suas famílias e para a sociedade em geral.

Neste contexto, aponta como exemplo as consequências políticas, económicas e sociais da perseguição judicial à família e aos colaboradores do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que, segundo afirma, tiveram impactos profundos no tecido empresarial e social do país.

O antigo primeiro-ministro defende que o MPLA, em particular as suas figuras mais experientes, deve assumir a responsabilidade de travar o que considera serem intentos de João Lourenço de “desafiar tudo e todos”, questionando os ganhos políticos de um silêncio que classifica como comprometedor.

“O que vão ganhar com o seu silêncio?”, interroga, alertando para o risco de se repetir um ciclo de vinganças políticas no final dos mandatos presidenciais.

Marcolino Moco dirigiu também duras críticas ao sistema judicial, apelando ao “mínimo de brio” por parte de magistrados da Procuradoria-Geral da República e dos tribunais, para que não se deixem instrumentalizar politicamente.

No caso concreto do general Higino Carneiro, recentemente constituído arguido, Moco considera tratar-se de um exemplo de “justiça selectiva”, que mina a credibilidade das instituições e compromete a estabilidade política.

O jurista recorda que, no passado, juntamente com outros especialistas, defendeu soluções políticas e socialmente mais equilibradas, alinhadas com o lema histórico do MPLA de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”.

Para ele, essa correcção nunca poderia passar por uma justiça selectiva, pela destruição de empresas economicamente viáveis ou pela limitação de candidaturas múltiplas no seio do MPLA, acusando o Presidente de confundir estatutos partidários com a Constituição da República.

Dirigindo-se também à oposição, Marcolino Moco advertiu contra a tentação de assistir passivamente a conflitos internos no MPLA, lembrando que o verdadeiro desafio nacional é ultrapassar o bloqueio estrutural de Angola, independentemente de quem vença futuras eleições.

Apontou exemplos de maturidade democrática em países como Cabo Verde, Namíbia e África do Sul, onde as disputas políticas não resultam em instabilidade social ou perdas humanas.

Por fim, o antigo primeiro-ministro apelou à Igreja Católica e às demais confissões cristãs para que não abdiquem do seu papel como referências éticas e morais na vida pública, sublinhando que, após o Congresso da Reconciliação Nacional, estas instituições detêm uma legitimidade acrescida para interpelar os responsáveis políticos e defender o interesse colectivo.

As declarações de Marcolino Moco surgem num momento de crescente debate interno no MPLA e de intensificação das discussões sobre sucessão, governação e futuro político de Angola. Imparcial Press

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