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Sexta, 29 Julho 2016 05:30

Mais vale torcer que quebrar

A decisão do governo de desvalorizar o kwanza e aumentar as vendas de divisas só peca por tardia.

O Governo vai flexibilizar a política cambial desvalorizando o kwanza e aumentando a venda de divisas, de acordo com a Reprogramação Macroeconómica Executiva a que o Expansão teve acesso.

Carlos Rosado de Carvalho | Expansão

As vendas de divisas deverão quase triplicar dos actuais 600 milhões USD para 1.500 milhões USD. Já o Kwanza sofrerá uma desvalorização de 23% até ao final do ano, em duas etapas. Numa primeira fase, durante o terceiro trimestre em curso, a moeda nacional desvaloriza 16,6% dos actuais 165,883 Kz por USD para 198,997 Kz por USD. No quarto trimestre a taxa de câmbio desvaloriza 7,6%, de 198,997 Kz por USD para 215,477 Kz por USD.

Eu que desde a primeira hora defendo um kwanza mais fraco para uma economia mais forte subscrevo inteiramente a mudança por razões que já expliquei em ocasiões anteriores e que agora repito.

O kwanza forte torna os produtos estrangeiros mais baratos em moeda nacional e os produtos nacionais mais caros em moeda estrangeira. Isso favorece as importações e prejudica as exportações.

No caso de Angola, os efeitos nocivos da apreciação do kwanza nas exportações não são importantes. O raciocínio é simples. Angola exporta praticamente um único produto, o petróleo, cujo preço é fixado internacionalmente. Assim sendo, eventuais apreciações do kwanza não aquecem nem arrefecem as exportações angolanas.

Como exporta um único produto cujo preço não depende do valor do kwanza, Angola não fica a perder no mercado externo.

Contudo o mesmo não acontece no mercado interno. Os produtos feitos em Angola concorrem com os produtos estrangeiros no mercado nacional. O que quer dizer que o kwanza forte torna os produtos estrangeiros mais baratos em moeda nacional, prejudicando a produção nacional e com ela a diversificação da economia.

Se este argumento não é suficiente para convencer os adeptos do kwanza forte a aceitar um kwanza mais fraco, temos outro, o do desemprego.

A curva de Phillips, desenvolvida pelo neo-zelandês William Phillips, ensina-nos que, no curto prazo, existe um trade-off entre inflação e desemprego. Em termos simples isso quer dizer que para termos mais emprego no curto prazo temos de aceitar mais inflação e vice-versa.

Parece-me ser esta a situação em que se encontra a economia angolana. Como referi, ao tornar os produtos estrangeiros mais caros, um kwanza mais fraco abre oportunidades de investimento ao feito em Angola. Mais investimento gera mais empregos.

 

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