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Quinta, 12 Mai 2016 13:40

Jornal de Angola, controlador de “epidemias”

“A Febre Amarela Está a Recuar”, proclamava no passado dia 5 de maio o Jornal de Angola. Na capa, o título vinha acompanhado de uma bela foto: uma mãe sorridente, passando a mão pela cabeça da sua filha de ar paciente, sendo vacinada por uma enfermeira, também ela de aparência simpática. Pequeno problema: a febre amarela continua a alastrar. Não só em Angola, mas também aos países vizinhos.

Leston Bandeira | AM

A base da capa do Jornal de Angola eram afirmações da responsável de saúde provincial de Luanda, dizendo na véspera que a epidemia estava controlada. Algo que costuma ter como efeito um “relaxamento” de parceiros internacionais perante o problema. E a mobilização de dinheiro e vacinas tem sido difícil. Algo que pode levar as pessoas a achar que a vacinação já é dispensável. E portanto diminuir a eficácia da campanha em curso. 24 horas depois, a OMS veio dizer o contrário. 

Alguns responsáveis de saúde duvidam da fiabilidade dos números oficiais. Mas eis o que estes nos dizem da evolução da epidemia: nos últimos 15 dias, mais 40 mortos - são agora 293 as vítimas mortais; nos últimos 15 dias, mais 240 casos suspeitos – são agora 2.149; o número de casos confirmados aproxima-se dos 700 e continua a crescer. Ou seja, a febre amarela não está a recuar. 

Há casos confirmados em 13 províncias. Já superaram os 100 no Huambo. a OMS salientou o nível elevado de preocupação que sugere a transmissão persistente local da doença, apesar de terem sido vacinadas seis milhões de pessoas em Luanda. E já apareceram casos transmitidos de Angola na República Democrática do Congo (RDC) e na República do Congo.

Em Cabinda o risco de transmissão local é muito elevado por causa dos muitos trabalhadores expatriados. Há, igualmente dois casos registados no Quénia, com transmissão feita a partir de Angola. Mas também já chegaram à China (11 casos) e na Namíbia também já há casos suspeitos.

A par da febre-amarela, ausência de medidas preventivas e o ano excecional de chuvas cria condições para aumento de casos de paludismo (mais de 2.900 mortos no primeiro trimestre). A manter-se o ritmo de mortes, o total poderá aproximar-se dos 12.000 mortos em 2016, mais do dobro do registado em 2015. 

No fundo, as epidemias de febres hemorrágicas vieram por a descoberto a incapacidade de resposta do sistema de saúde e das autoridades de saúde, a par dos efeitos de um corte de verbas para o sector inscritas no Orçamento de Estado (revisto) para 2016. 

Qual é o resultado da declaração oficial de Angola sobre o controlo da epidemia e a consequente repercussão na informação? Diminuem os apoios financeiros e também os em espécie - vacinas e apoio técnico. Perante uma crise humanitária, a principal preocupação parece ser melhorar a imagem de um país que tem um Estado incapaz de assegurar o básico.

Importa dizer que uma vacina de febre amarela custa menos de 100 dólares por pessoa. Ou, em termos que a elite do regime talvez tenha mais facilidade em perceber, custa uns óculos escuros da Armani. Uma garrafa de Moet Chandon. Uma gravata barata da Hermes. 

Durante os anos em que jorrava dinheiro do petróleo, as elites não se preocuparam em comprar vacinas. Aliás, a vacinação acabou por ser feita à pressa e às ordens da OMS. Mas, nas boas vivendas da Talatona, há imensos óculos escuros Armani. E gravatas da Hermes. O champanhe, esse, já deve ter sido todo bebido.

Perante tudo isto, como se sentirão aqueles que deram as suas juventudes para libertar o povo Angolano daquilo quer era considerado um sistema autoritário que não cuidava da escola, da saúde e da economia do povo que habitava aquele imenso território?

 

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