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Segunda, 14 Março 2016 15:02

O significado de 2018

José Eduardo dos Santos mergulhou, na Sexta-feira, o seu partido, o MPLA, numa verdadeira inquietude. O MPLA e os angolanos na generalidade. O anúncio da sua saída da cena política em 2018 caiu como se tivesse drenado uma nuvem de interrogações. Interrogações e preocupação, porque José Eduardo dos Santos mais não disse. Os analistas articulam as mais diversas opiniões, tecem hipóteses.

O País \ José Keliengue

O presidente do MPLA anunciou a sua decisão, mas o MPLA, apanhado de surpresa no seu Comité Central, atónito, reagiu de formas diversas. Uns dizem que José Eduardo dos Santos é humano e tem direito ao descanso, outros dizem que a decisão pessoal do seu presidente tem de merecer uma “autorização” do partido para ser válida.

Apesar de se tratar de uma decisão pessoal, compreensível, não vai ser fácil a Eduardo dos Santos cumpri-la, nem a situação do partido o recomenda, nem a situação do país o recomenda. Mas vamos ao que inquieta as pessoas e às leituras possíveis das implicações do anúncio feito por José Eduardo dos Santos na reunião do Comité Central do seu partido. 2018 Porquê? Há analistas que defendem que o Presidente vai mesmo sair em 2018.

Esta hipótese é legítima, mas ninguém consegue explicar o timing. Porquê 2018 e não 2017? Sabe-se que o cabeça de lista do MPLA deverá ser escolhido e anunciado antes do Congresso de Agosto. Na hipótese de não ser José Eduardo dos Santos, o próximo candidato, vencendo as eleições, irá conviver por alguns meses com o actual presidente do partido, já que o Comité Central, na semana passada, decidiu, por unanimidade, recandidatar o seu líder à sua própria sucessão. Portanto, ou José Eduardo dos Santos cumpre o seu mandato no MPLA até ao congresso electivo seguinte, ordinário, em 2021, ou o MPLA terá de escolher um novo presidente em 2018. Então, por que recandidatá-lo a dirigir o partido? Apenas para assegurar a vitória em 2017?

E o cabeça de lista em 2017, vencendo, será eleito em 2018 também presidente do MPLA? Pelo menos assim, já Presidente da República, este teria menos dificuldades de se impor no MPLA que, aliás, nessa altura já estará renovado em 45 % no seu Comité Central. A juventude é coisa com que contar tanto no MPLA como na sociedade. Se José Eduardo dos Santos avançar e for eleito Presidente da República em 2017 e sair em 2018 poderá fazê-lo sem que o país volte às urnas? Mais do que saber quem o poderá substituir, o importante é saber se existem condições para que se efective a sua saída. O Comité Central do MPLA demonstrou na Sexta-feira, recandidatando- o à presidência do partido, que poderá não estar virado para a hipótese de o líder sair da política activa em 2018, como pretende. Mas voltemos a falar do timing Ficando José Eduardo dos Santos à frente do MPLA (sobre isso não há dúvidas), ele fará, em 2017, campanha para o seu substituto à frente do Estado, como uma acção de passagem de testemunho? Esta hipótese também é válida. E depois Eduardo dos Santos apoiará o novo Presidente da República para a presidência do MPLA..

Até aqui tudo bem, duas passagens de testemunho controladas. Resta saber se o MPLA vai conviver bem com esta hipótese. Agora sim, levanta-se a questão do homem que se segue. Para já, se não vierem surpresas, e lembrando-nos do que José Eduardo dos Santos disse à SIC numa das suas últimas entrevistas, algumas figuras do MPLA foram sendo experimentadas para a possível sucessão. É fácil depreender, das palavras do Presidente, de que figuras se trata.

Em primeiro lugar estão aqueles a quem apenas falta ser Presidente da República e do MPLA nas suas carreiras políticas, nomeadamente António Pitra Neto, Fernando da Piedade Dias dos Santos, António Paulo Kassoma e Manuel Vicente, o actual vice-Presidente. Mas há “corredores” externos a esta lista: Carlos Feijó, Higino Carneiro, João Lourenço e Isaac dos Anjos são nomes a não descurar. Outras duas hipóteses…

Há uma possibilidade bem real que pode estragar os planos de José Eduardo dos Santos. Das conferências municipais que agora se iniciam, para a preparação e eleição dos delegados ao Congresso de Agosto, poderão surgir apelos dos militantes de base e das estruturas do partido para a sua continuidade por mais um mandato, tanto no MPLA como à frente da Nação.

Esta vaga de fundo obrigaria o líder a atender o apelo do partido e daria razão a vozes como as de Gonçalves Muandumba e Marcos Barrica que já disseram que a decisão do presidente tem de ser aceite pelos militantes. Se assim for (não nos espantemos se começaram as marchas e passeatas de militantes a apelar à sua continuidade), José Eduardo dos Santos será o cabeça de lista do MPLA em 2017.

Sendo eleito, governará até 2022, pois não faria sentido aceitar o repto do partido, ganhar as eleições e ficar apenas por uns meses. Portanto, a próxima reunião do Comité Central do MPLA deverá aclarar o futuro de José Eduardo dos Santos relativo à sua vida política. Uma última leitura sobre 2018 Porque José Eduardo dos Santos anunciou que abandonará a vida política activa em 2018, mas não disse se será ou não candidato ao lugar de cabeça de lista do MPLA nas eleições de 2017, e olhando para a actual situação económica do país, e ainda para a possibilidade de as receitas financeiras começarem a subir apenas no fim de 2017, é possível que o presidente do MPLA tenha antevisto a impossibilidade da realização das eleições gerais em 2017. Se não há o que comer, como suportar os gastos logísticos do processo eleitoral que num país como Angola se sabe que serão necessariamente altos?

Quer os angolanos, quer a comunidade internacional aceitariam sem grandes reservas o adiamento por um ano das eleições, havendo o compromisso de o presidente abandonar em 2018, numa altura em que, previsivelmente, o país estaria em melhores condições de realizar eleições calmas e com toda a logística assegurada, portanto mais transparentes. Neste caso José Eduardo dos Santos governaria até 2018, altura em que se realizariam as eleições gerais e levaria a que o MPLA buscasse um novo líder num congresso extraordinário.

 

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