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Segunda, 25 Novembro 2013 21:04

Aproveitamento político da UNITA no caso Cassule e Kamulingue é legítimo

Posicionamento político em Angola é coisa de torcida furiosa e organizada e isso, às vezes, impede que algumas pessoas, para não dizer mesmo a maioria das pessoas, enxerguem o óbvio.

Se o futebol por suas características que consiste em ser algo para lazer e diversão consegue gerar a violência que a televisão e outros meios de comunicação têm nos mostrado, o fanatismo político que é o obstáculo que consegue evitar que alguém enxergue algo a distância, ainda que esta seja curta, com muito mais razão, leva à guerra.

Em Angola para muitos é difícil fazer política e ao mesmo tempo evitar essa situação. O que é um tremendo erro. Erros que levam ao desastre, a guerra durante vinte ou trinta anos e suas ameaças estiveram e estão aí para justificar o comportamento desta gente.

Continuo esse texto para dizer que ainda não deixei de ser militante do MPLA; ser desse partido não me impede em enxergar o óbvio; nem aderir ao vandalismo político que alguns dos meios compatriotas e camaradas por aí adotaram como ação e discurso para conviverem em democracia.

Ao contrário do que muitos supõem, defender o MPLA não é defender um grupo de políticos na cúpula do partido convencidos de suas vaidades e arrogâncias.

Defender o MPLA é enxergar e sinalizar erros e evitar que os mesmos aconteçam. Incluindo como aqueles do 27 de Maio, que hoje faz com que o MPLA não tenha cara para sair ao público e se defender dos sobreviventes daquela chacina desnecessária ( mesmo protagonizado por ambas as partes).

Algo tem nos assustado nos últimos dias é o direito de se fazer manifestação nesse país. Só é contra a mesma quem por definição se atribuiu o direito político e absoluto de continuar no poder de forma totalitária. Se assim não for, então, a manifestação é um direito de todos que não pode ser usado por nenhuma das partes como ameaça para se chegar a uma guerra.

E mais, usar o pretexto de que grupos, pessoas ou algum partido estão fazendo uso político de um ou outro fato e se aproveitando da política para organizar manifestações é ato de ignorância que não caberia ser comentada aqui.

José Eduardo dos Santos hoje é o símbolo de um Estado corrupto que conseguiu emburrecer toda uma nação e infelizmente é misturado e confundido com o pouco que sobrou de melhor do MPLA essa talvez seja a causa principal do porque muitos cidadãos angolanos não conseguem destrinchar coisas simples na política. Como, por exemplo, o direito de se fazer o uso da política para se exercer ou fazer valer os valores da democracia.

O comunicado do MPLA em rejeição a manifestação do dia 23 diz claramente que a UNITA está fazendo aproveitamento político dos casos Cassule e Kamulingue, como se esse aproveitamento fosse crime, ilegal ou até ilegítimo.

Ora bolas, o que o MPLA queria que a UNITA fizesse? Pegasse em armas novamente? O MPLA tido como um partido poderoso, assim se gabam muito dos seus militantes, deveria também estar assessorado pelos melhores quadros; o que na verdade não falta dentro deste partido. Mas pelo jeito parece que a corrupção e os corruptos andou comendo, também, os cérebros desses quadros.

A essa turma de sábios, intelectuais mudos e silenciosos do maior partido, devemos dizer que qualquer aproveitamento político num ambiente democrático, além de ser legitimo, ele é o resultado dos erros políticos que a outra parte comete. Aproveitamento político é precisamente um instrumento democrático para se fazer política e não cairmos na violência, incluindo a guerra.

O que não se pode admitir, e chega a ser um horror, é usar o poder do estado, a força coerciva, para se evitar que um partido político no uso o seu direito de fazer política, que é precisamente a arte de se usar a política para se chegar a um consenso de caráter pacifico ajudando a solucionar o que se deseja, deixe de fazer política. E isso sim chamamos de aproveitamento político: Forma equilibrada e civilizada de não se chegar à violência.

Só como exemplo, se alguém fizesse uso da política com competência para desmascarar as atividades dos finados Cassule e Kamulingue com certeza não existiria necessidade de eliminar os dois e jogá-los a um rio habitados de jacarés famintos. Mas a burrice e a violência optou em exterminar os dois –repito, isso prova de que não houve competência política para neutralizar os dois. Os assassinos do regime, agora transformados em jacarés, foram tão covardes, porque não tinham argumentos, ou não foram educados a fazer política.

Ou seja, a política e todas as suas possibilidades ( diga-se aproveitamentos) é precisamente o único meio para se evitar que o destinos de muitos de nós seja igual a dos dois jovens C & K.

Numa democracia o erro de um é a oportunidade de que o outro lado dê sua reviravolta; desde que esta seja em benefício da própria democracia.

Não está escrito em nenhum lugar, bíblia ou dicionário, que a UNITA é por regra o partido que existe para cometer erros e crimes contra a sociedade angolana. E que o MPLA é por definição o partido destinado a cometer todo tipo de acertos diante dos angolanos.

Ou seja, essa antítese e tese da política Angolana, MPLA e UNITA, não foi definida por nenhuma entidade superior a nós, e nem pela razão humana, que eu saiba, de quem está predestinado a cometer eternamente erros e quem está predestinado a cometer os acertos.

Assim, só tem medo da política e de manifestações quem é corrupto. Estes preferem governar seus subordinados submissos sem reclamações, fazem da política um crime e criminosos quem adota a mesma para reclamar de direitos e deveres.

Eu sou, sim, do MPLA; e com muito orgulho; por isso não aceito esse tipo de coisas: a cegueira e a submissão ( produto da bajulação) com uma mistura de burrice, mudismo ou o cala-boca que os corruptos adoram dizer e mandar nos seus subordinados.

Sou do MPLA, por isso veio aqui alertar os meus camaradas. Ter medo da guerra, sim! Mas não devemos ter medo de fazer política; porque é na arte de fazer política em que podemos nos espelhar como angolanos e homens livres; podemos nos expressar como pessoas e homens independentes, negros, nativos e africanos ou simplesmente seres humanos.

Sinceramente, não vi e não vejo erro da UNITA em fazer aproveitamento político no caso Cassule e Kamulingue. Ao contrário, devemos dar graças aos “Céus” de que isso tenha acontecido, é sinal de que a UNITA como partido político está amadurecendo.

Onde está o erro nisso?

Nelo de Carvalho

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