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Quarta, 29 Abril 2015 21:20

Golpistas fingem inocência

Era inevitável. Os que montaram uma linha de produção de famintos e despojados de tudo, para depois lançarem nas manifestações contra os deputados que aprovaram a Lei do Registo Eleitoral Oficioso, as políticas, sejam elas quais forem, do Executivo e contra o Chefe de Estado, estão a culpar as vítimas da tragédia da Caála.

E como sempre, os principais culpados são os órgãos de comunicação social do sector empresarial do Estado.

O lixo mediático está mobilizado para repetir os truques do costume. No 27 de Maio de 1977, foram barbaramente assassinados dirigentes do partido, comandantes das FAPLA e membros do Governo. Os golpistas queriam matar o Presidente Agostinho Neto. Mas as vítimas são culpadas e os culpados apresentados como vítimas. Os golpistas foram confrontados com os defensores da Pátria. E perderam. Os assassinos são hoje apresentados como heróis e Bula Matadi, Dangereux, Eurico, Saidi Mingas, o ministro que lançou a “Operação Kwanza”, símbolo da soberania nacional, todas as outras vítimas dos nitistas, são os culpados. Nito Alves, Monstro Imortal, José Van-Dúnem, Cita Vales ou Balakov, todos da direcção do golpe, causadores de tantas mortes, são tratados como heróis. Já ninguém se lembra de um documento do Bureau Político do MPLA onde foi feita a anatomia do golpe e indicados os seus mentores e as responsabilidades que lhes cabem. A UNITA foi clamorosamente derrotada nas primeiras eleições multipartidárias. Quando a ONU proclamou os resultados Savimbi deu ordens aos seus homens para tomarem o poder pela força, em Luanda. À cautela, fugiu para o Huambo. Deixou Chitunda, Salupeto, BenBen, Mango e Chivukuvu para trás. Eles que avançassem com o golpe de estado. E assim fizeram. O povo de Luanda enfrentou os golpistas com coragem e determinação. Em muitos casos com heroísmo. Os golpistas foram derrotados. Nos confrontos armados morreram dirigentes da UNITA e seus apoiantes. Hoje Samakuva e comparsas acusam o MPLA de ter morto os golpistas.

Com a tragédia da Caála está a acontecer a mesma coisa. Todos os pasquins e sites da UNITA atribuem responsabilidades ao Executivo. Vitorino Nhany, secretário de Samakuva, teve uma intervenção pública que varia entre o terrorismo verbal e o delírio etílico. Vai ao ponto de afirmar que, afinal, os seus aliados kalupetekas só mataram três agentes da Polícia Nacional, os outros morreram num acidente de viação. E avança com o truque de sempre: a culpa é toda do Governo que massacrou centenas de pessoas.

Samakuva e os seus ajudantes fazem política sem ética. Usam a mentira e a calúnia como argumento primordial na disputa política. Mas no que diz respeito à tragédia da Caála, foram muito mais longe: mostram total conivência com os criminosos, o que faz deles cúmplices de crimes hediondos. A democracia não pode viver com políticos sem ética. Mas não pode tolerar cumplicidades com o obscurantismo e a fúria assassina. Ou a direcção da UNITA respeita as regras do jogo democrático ou aposta na instabilidade e na intolerância. Mas não pode continuar com a cabeça no golpismo e o corpo na Assembleia Nacional. Só para fingir que tem a ver com a democracia.

Por Álvaro Domingos

Jornal de Angola

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