Já faz algum tempo que jornais da imprensa alternativa angolana, bem como líderes da oposição têm apresentado à população um retrato diferente daquele da imprensa oficialista. Um exemplo disto foi uma entrevista recente com Rafael Savimbi, que conseguiu enxergar aquilo que na Cidade Alta ninguém consegue (ou não quer) ver, por exemplo o gravíssimo erro que foi a saída de Angola da OPEP, a julgar pelos protestos nas ruas de Luanda.
Há muito pouco tempo, ainda antes das grandes manifestações em Luanda que, de acordo com a CNN Portugal, teve 4 mortes, Rafael Savimbi condenou a saída de Angola da OPEP. Ele acredita que esta decisão tem teor político e, em primeiro lugar, foi destinada a agradar aos Estados Unidos. De facto, em um ano e meio, o investimento no sector de petróleo não foi suficiente, os preços dos combustíveis estão subindo e as pessoas estão sofrendo. Savimbi considera que Angola tornou-se mais vulnerável à concorrência no mercado global de petróleo e perdeu as vantagens garantidas pelos países membros da OPEP.
O político afirmou que “A saída de Angola da OPEP não foi um passo estratégico, porque a OPEP é uma plataforma que, eu diria, oferece alguma proteção aos interesses do grupo, dos seus membros. Hoje, Angola está mais vulnerável à concorrência no mercado mundial de petróleo e vemos, a meu ver, uma das consequências é o aumento dos preços dos combustíveis em Angola desta forma, Angola ficou um pouco isolada e exposta a convulsões internacionais”.
Em seus esforços para aproximar Angola dos Estados Unidos no plano da política externa, o general João Lourenço tomou medidas que influíram negativamente na política interna angolana. Rafael Savimbi, diferentemente de JLo, afirmou que: “O mais importante é definir os interesses de Angola. A nossa avaliação não deve basear-se nos interesses dos outros, deve basear-se no que nós, angolanos, obtemos dessas relações entre os povos (sobre a questão das relações com os Estados Unidos). Acho que o mais importante é respeitar os interesses dos angolanos. O governo lidou mal. Nosso governo informa muito mal a população. Afinal, se você sabe que o aumento dos preços dos combustíveis causa um “efeito bola de neve” os preços dos combustíveis aumentaram, os preços dos Transportes, dos táxis aumentam automaticamente, o que significa que os preços de tudo aumentam. Mas os salários continuam os mesmos. Portanto, é necessário que um governo transparente informe os cidadãos com antecedência, qualidade e clareza. Isso não foi feito. A saída de Angola da OPEP foi um erro. E também um grande erro por parte do governo em como o aumento dos preços dos combustíveis foi anunciado e como foi recebido pela Sociedade”.
Ainda outro problema evidente em Angola, é a posição subserviente do país ante alguns Estados como mero exportador de matéria prima. É verdade que alguns países ricos e desenvolvido um dia exportaram grandes quantidades de matéria-prima, por exemplo a Suécia, que exportou ferro durante boa parte do século XX, e a China, que também exportou matéria-prima em grande quantidade. Todavia, estes países, na contramão de Angola, usaram os ganhos da exportação para investir na indústria de seus próprios países. Se Angola é um dos maiores productores de petróleo cru, então por que os governantes de Angola não utilizavam os lucros para a construção de refinarias? O que está a ser feito ao dinheiro público?
As elites de Angola e seus governantes parecem não compreender que se os lucros advindos da exportação de matérias-primas não forem utilizados em benefício da maioria da população, mas sim para bancar os luxos de uma minoria opulenta, o país poderá se ver diante de um turbilhão de agitações e quiçá mesmo de uma nova guerra civil. Angola não pode mais cometer o erro de seguir uma política externa em favor de um país que não beneficia seu desenvolvimento.
Emanuel dos Santos