Subiu alto, mais alto do que alguma vez imaginara. E lá do topo, achava que nada poderia derrubá-lo. Mas, como em toda história de poder mal digerido, a queda se escreveu em silêncio, dia após dia, entre suspiros de arrogância e promessas quebradas.
Nos últimos meses do seu reinado, Joãozinho andava inquieto. Passava longas horas a imaginar quem o sucederia. Mas não por generosidade ou espírito democrático, longe disso. Era puro receio. Sabia, no fundo de si, que as regras do jogo tinham mudado. Os sucessores já não eram indicados à mão, como nos tempos antigos. Agora eram eleitos. E eleitos por quem verdadeiramente manda no reino, o povo.
Joãozinho, teimoso como um burro velho, recusou-se a aceitar essa nova realidade. Tentou reescrever as regras do jogo. Quis reviver os dias em que o rei apontava o dedo e tudo se resolvia com um aceno. Ensaiou discursos nostálgicos, reatou alianças já desgastadas, fez promessas ocas e até lançou ameaças veladas. Mas tudo caiu por terra. O reino havia acordado. E ninguém nem mesmo as concubinas da corte queria mais saber das aventuras do velho Joãozinho.
O golpe final não veio de uma espada, mas da consciência coletiva. O poder já não era hereditário, nem eterno, nem absoluto. Os reis, agora, tinham patrão. E esse patrão, meus senhores, era o povo, o verdadeiro dono do trono, o decisor em última instância.
Mas Joãozinho, movido por um ego insaciável, ainda não desistira. Começou a acalentar um plano B. Um plano sinistro. Cogitou provocar convulsões sociais através de medidas duras e cruéis que desestabilizassem a vida do povo. Imaginou acusar opositores de fomentar a desordem, infiltrar provocadores nas manifestações populares e, com isso, justificar a suspensão da Constituição, dissolução do Parlamento, legalização dos partidos opositores e a proclamação de um Estado de Emergência ou de Sítio, tudo para se manter no trono.
Só que desta vez, o povo estava com os olhos bem abertos. Já conhece as artimanhas. E não permitiram mais que os Joãos do mundo brinquem de reis às custas do sofrimento alheio.
Porque a lição está dada: nenhum trono é maior do que a vontade de um povo cansado, mas desperto.
Por Rafael Morais
Presidente da Uyele Associação Cívica