Quinta, 31 de Julho de 2025
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Quinta, 31 Julho 2025 00:04

As aventuras de um certo Joãozinho que queria ser Rei

Era uma vez um certo homem chamado Joãozinho. Não era um Joãozinho qualquer, era um Joãozinho que, por ironia do destino, sentiu o cheiro adocicado do cadeirão máximo do reinado.

Subiu alto, mais alto do que alguma vez imaginara. E lá do topo, achava que nada poderia derrubá-lo. Mas, como em toda história de poder mal digerido, a queda se escreveu em silêncio, dia após dia, entre suspiros de arrogância e promessas quebradas.

Nos últimos meses do seu reinado, Joãozinho andava inquieto. Passava longas horas a imaginar quem o sucederia. Mas não por generosidade ou espírito democrático, longe disso. Era puro receio. Sabia, no fundo de si, que as regras do jogo tinham mudado. Os sucessores já não eram indicados à mão, como nos tempos antigos. Agora eram eleitos. E eleitos por quem verdadeiramente manda no reino, o povo.

Joãozinho, teimoso como um burro velho, recusou-se a aceitar essa nova realidade. Tentou reescrever as regras do jogo. Quis reviver os dias em que o rei apontava o dedo e tudo se resolvia com um aceno. Ensaiou discursos nostálgicos, reatou alianças já desgastadas, fez promessas ocas e até lançou ameaças veladas. Mas tudo caiu por terra. O reino havia acordado. E ninguém nem mesmo as concubinas da corte queria mais saber das aventuras do velho Joãozinho.

O golpe final não veio de uma espada, mas da consciência coletiva. O poder já não era hereditário, nem eterno, nem absoluto. Os reis, agora, tinham patrão. E esse patrão, meus senhores, era o povo, o verdadeiro dono do trono, o decisor em última instância.

Mas Joãozinho, movido por um ego insaciável, ainda não desistira. Começou a acalentar um plano B. Um plano sinistro. Cogitou provocar convulsões sociais através de medidas duras e cruéis que desestabilizassem a vida do povo. Imaginou acusar opositores de fomentar a desordem, infiltrar provocadores nas manifestações populares e, com isso, justificar a suspensão da Constituição, dissolução do Parlamento, legalização dos partidos opositores e a proclamação de um Estado de Emergência ou de Sítio, tudo para se manter no trono.

Só que desta vez, o povo estava com os olhos bem abertos. Já conhece as artimanhas. E não permitiram mais que os Joãos do mundo brinquem de reis às custas do sofrimento alheio.

Porque a lição está dada: nenhum trono é maior do que a vontade de um povo cansado, mas desperto.

Por Rafael Morais

Presidente da Uyele Associação Cívica

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