Essas manifestações não são apenas actos de protesto, são também expressões de cidadania e resistência diante de políticas públicas que fragilizam ainda mais o tecido social. Elas servem para lembrar ao governo que a sustentabilidade social não se faz apenas com discursos bonitos, mas com medidas concretas que aliviem o sofrimento de todos, militantes, não militantes, simpatizantes, e até os neutros, essa maioria silenciosa que assiste ao colapso diário da dignidade.
O que surpreende e envergonha é a postura de alguns militantes que, em vez de ouvirem o povo, optam por organizar contra-manifestações ou infiltrar-se nos protestos com o objetivo claro de desestabilizar acções que são não só legais, como protegidas pela Constituição da República de Angola. É o amor irracional ao partido que supera a racionalidade cidadã. Militantes que esquecem que são, antes de tudo, cidadãos. Quando se ama mais um partido do que o próprio país, a linha entre militância e cegueira ideológica desaparece.
É preciso recordar que o Estado está acima dos partidos políticos, e não o contrário. Confundir governo com partido, e partido com nação, é um erro perigoso que mina a construção de um país verdadeiramente democrático.
A Procuradoria-Geral da República e as forças de segurança devem assegurar a proteção dos manifestantes pacíficos e impedir a acção de provocadores. Quando a polícia se alia ao medo do poder em vez de proteger um direito constitucionalmente protegido, todos perdem inclusive os próprios agentes, que também enfrentam o mesmo custo de vida contra o qual o povo se manifesta. Repito- A Procuradoria-Geral da República e as forças de segurança têm o dever constitucional de proteger os manifestantes pacíficos e impedir que forças alheias saboteiem a livre expressão dos cidadãos.
A vergonha de um militante apaixonado é visível quando ele defende o indefensável, mesmo que isso custe o pão da sua própria família. Porque, no final, a subida do preço do gasoleo afeta a todos, mesmo os que gritam slogans partidários com fervor, mas sentem no bolso a mesma dor do povo.
Quando o amor ao partido exige que se cale diante da injustiça, o resultado é um cidadão envergonhado de si mesmo.
Se queremos construir um país digno, precisamos de cidadãos militantes ou não que tenham consciência crítica, e não de fanáticos obedientes. Porque, no fim do dia, todos precisamos do mesmo pão na mesa, transporte acessível e um futuro melhor.
Por Rafael Morais