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Sábado, 22 Novembro 2014 07:49

Hoje será novamente dia sangrento em Luanda?

O ambiente na cidade está agitado, e hoje sábado será um dia de "altas temperaturas". Em Luanda milhares de cidadãos estão preparados para se manifestarem. Como habitualmente o regime despótico afina os meios de repressão com a sua poderosa máquina militar-policial para impedir a realização dos protestos contra a demissão do corrupto Zé Kitumba dos Santos que se prolonga no poder há mais de 35 anos.

Como sempre acontece, para o MPLA há culpados - externos ou internos, para que os manifestantes protestem contra o regime podre dos que eternamente confiscaram a liberdade e a cidadania dos angolanos. Internamente, apontam a UNITA como bode expiatório, incapazes de entenderem as motivações dos cidadãos, porque os 'donos do país' continuam a viver faustosamente nas suas torres de marfim, desprezando os direitos mais elementares de quem quer uma sociedade mais justa e não o gangsterismo no poder: o Triunfo dos Porcos, que magistralmente Orwell nos deixou como legado universal.

Daí que a UNITA, inteligentemente, já se demarcou dos protestos por ter sido acusada pelo secretário provincial do MPLA Bento Bento de estar por detrás dos jovens para inviabilizar a realização do congresso do MPLA no mês de Dezembro, esvaziando assim aquelas acusações. Um perfeito e ridículo disparate, como se os jovens estivessem interessados nisso e que só aos filiados do partido no poder diz respeito. O que os jovens querem é absolutamente legítimo: mais democracia, fim da corrupção e do nepotismo, melhor distribuição social das riquezas do país, mais saúde, educação, trabalho e respeito pela cidadania e pelos seus direitos inalienáveis - que continuam confiscados por um sistema herdeiro e em nada diferente do velho regime ditatorial de partido único.

Raul Mandela, que tem sido alvo de feroz perseguição por indivíduos não identificados - mas que obviamente são agentes do SINSE, a secreta que actua com o respaldo do ditador -, diz que desta vez vão provar ao Presidente Eduardo dos Santos que não são apenas "300 jovens frustrados", como disse não há muito tempo em entrevista à SIC Noticias. Raul foi muito claro: “O cidadão José Eduardo dos Santos fica na Cidade Alta e vamos mostrar-lhe que não somos apenas 300 jovens como ele tinha dito, os frustrados. Desta vez estarão lá para dizer fora Zé Dú”. Raul Mandela disse ainda que não terão medo, nem mesmo das suas vidas: “Desde que começamos não temos mais medo do que venha a acontecer, sabemos que muitos vão ser presos e talvez assassinados, mas não temos medo”.

Os jovens do denominado Movimento Revolucionário Angolano convocaram há mais de um mês duas manifestações para os dias 22 e 23 e que aqui publico, com o objectivo de exigir a demissão de José Eduardo dos Santos no poder há mais de 35 anos. Não é preciso ser-se especialista em direito constitucional para afirmar que a juventude age de acordo com os princípios constitucionais da República, nada havendo nesta exigência dos jovens o que não esteja consagrado pela Constituição, pelo que não podem ser impedidos de exercerem o seu direito de se manifestarem.

Também a organização juvenil do partido CASA-CE, liderada por Rafael Aguiar, Secretário da Juventude Patriótica de Angola convocou uma marcha para Domingo às 15 horas, para homenagear o seu patrono, o jovem engenheiro Hilbert Ganga, cobardemente assassinado pelas costas com armas dos soldados da Guarda Presidencial do ditador, no ano passado (enquanto colava com outros jovens cartazes com os rostos dos desaparecidos Cassule e Kamulingue) e que apesar de estarem perfeitamente identificados os seus assassinos, nada lhes aconteceu até agora sob protecção da 'Cidade Alta'.

Se Angola fosse um país "democrático", como tem constantemente repetido como retórica nos seus discursos com a boca cheia de democracia o déspota demagogo, populista e corrupto JES, não entendo pois porque razão fazem tantas ameaças contra os denunciantes na hora de se apontar os crimes, até mesmo os considerados pela própria lei constitucional vigente no país !

E tal como acontece em todas as ditaduras, mesmo nas mascaradas de democracia como é o regime de Zé Kitumba dos Santos, não se perdeu tempo a manobrar : os professores do ensino básico e médio foram informados verbalmente pelas direcções das escolas que devem obrigatoriamente participar numa marcha, neste sábado, alusiva ao "dia do educador". Ameaças de despedimento e outros tipos de chantagem foram feitas para quem não comparecesse, além de estarem proibidos de se manifestarem contra o ditador. Só podem gritar 'vivas' a JES e não mostrar qualquer contestação ao regime. E para controlar a presença dos professores, eles estão obrigados a concentrarem-se diante das escolas onde trabalham. O que poderia ser eventualmente uma manifestação espontânea e livre da classe dos professores que reivindicasse melhorias no ensino, é transformado pelo regime como uma contra-marcha às anunciadas pelos jovens do Movimento Revolucionário Angolano, ainda que os professores concordem com os propósitos dos jovens.

Por Telmo Vaz Pereira

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