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Sábado, 16 Novembro 2019 10:11

Conselhos para o novo presidente da UNITA

O Congresso da UNITA, que está em curso, vai determinar a essência deste movimento formado oficialmente em 1966. Desta vez, o partido terá uma transformação drástica, porque passará a uma estrutura que irá empenhar-se por completo em alcançar o poder político através de uma via democrática.

Internamente, a cultura organizacional que tinha resultado numa figura fortíssima, quase messiânica, vai ver o seu fim: o presidente do partido terá mandatos limitados, ponto final. A alteração da constituição para eternizar a presidência de uma figura seria plenamente inaceitável.

O novo presidente da UNITA vai ter de manter os seguintes pontos em mente: Foi eleito no posto por um tempo limitado — segundo a constituição do partido; alterar a constituição para eternizar a sua permanência no poder vai ser plenamente inaceitável. Isto significa que ele terá o tempo contra si; o tempo de “lua-de-mel” resultante da vitória vai ser muito curto; digressões pelo país para celebrar a vitória vão ter que ser curtíssimas. O novo presidente vai ter que traçar uma estratégia séria e trabalhar com uma equipa altamente competente para implementar a sua visão. Isto significa que vai precisar de uma imensa capacidade para ignorar as distracções.

A primeira distracção que o novo presidente da UNITA vai ter que ignorar é o imenso barulho que será feito por aqueles que estarão no campo dos seus adversários que terão perdido. Depois da declaração da vitória, o novo presidente da UNITA vai ter que ir de imediato aos adversários e insistir que a vitória também é deles. Isto não é fácil; o desejo será, até, de humilhar os vencidos e realçar o facto de que o apoio deles entre os delegados era limitado. Os representantes do vencedor vão ter, também, que conter os ânimos e insistir na vitória colectiva do partido. A festa vai ter que ser da UNITA e não do vencedor. O novo líder da UNITA terá que ter muito cuidado, porque tudo o que disser ou fizer será analisado minuciosamente. A mensagem dele vai ter que ser de reconciliação interna e coesão na disputa da liderança da nação.

A segunda distracção vai ser como lidar com os campos que foram criados durante a campanha pela liderança do partido. De um lado, o novo presidente vai ter que fazer vários gestos para promover a reconciliação, mas não poderá ser absorvido pelos resquícios resultantes de um sentimento de perda. As fofocas, boatos e vários outros esquemas vão perder qualquer aceitação, quando houver um programa bem traçado e que preveja a contribuição de todos. O novo líder vai ter que convencer os membros do partido que todos valem e as suas contribuições sempre vão ser tomadas em conta.

Liderar um partido da oposição numa democracia requer muita eficiência e até mesmo criatividade. O novo líder da UNITA vai ter que estudar com muito cuidado como o dr. Savimbi utilizou a empresa e cultura a seu favor. A verdade é que em 1968, relativamente aos outros movimentos de libertação nacional, a UNITA era o menos conhecido. A um certo momento, o doutor Savimbi organizou a vinda do cineasta, fotógrafo e jornalista austríaco Fritz Sitte. Sitte esteve meses com a UNITA nas matas, filmando e fotografando vários aspectos do movimento. O resultado foi impressionante: a UNITA passou a ser conhecida em várias partes do mundo. Nos anos 1980, as reportagens de Barata Feio e François Soudain tiveram um efeito marcante na projecção da UNITA. Logo, o dr Savimbi dirigiu vários recursos do movimento na formação do pessoal ligado à Informação; a sua equipa de imagem era liderada por alguém que tinha sido formado numa escola especial, em Paris. O novo líder da UNITA vai precisar de uma equipa de marketing com gente com talento e criatividade, a quem terão de ser dados recursos e vários outros meios. No Huambo, houve um tempo em que o secretário do partido, Liberty Chiyaka, era acompanhado em todas as viagens por um fotógrafo excepcional; mesmo quem não estivesse interessado na mensagem da UNITA tinha que admirar a qualidade das fotos. São indivíduos deste género que vão ter que assessorar o novo presidente da UNITA.

Finalmente, o novo presidente da UNITA vai ter que cativar o resto da Nação com a sua mensagem. Isto não é fácil. Falo como alguém que já viajou por quase todo o país. Há regiões eleitorais chave que o líder eleito da UNITA vai ter que visitar e interagir com o eleitorado com frequência. Há, também, os novos eleitores para serem atraídos para o partido e que tiveram uma experiência de vida que difere de muitos que vão estar na liderança da UNITA.

Por Sousa Jamba - JA

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