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Quinta, 31 Outubro 2019 13:43

Kwanza: quo vadis!

Com as deliberações saídas da última reunião do Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) realizada no dia 23 de Outubro 2019, o mercado cambial Angolano não será indubitavelmente o mesmo. O BNA não conseguiu aguentar a trela do kwanza e, decidiu liberalizar completamente o mercado cambial, passando o mercado a ditar o preço de comercialização dos cambiais.

Depois de um sistema cambial fixo que vigorou na economia Angola por largos anos, no mês de Janeiro do corrente ano o BNA anunciava o novo sistema cambial flutuante com a definição de bandas e uma taxa de comercialização de 2%.

Em comunicado tornado público o BNA realça que esta banda deixa de existir, “uma vez atingidos os objectivos das medidas mencionadas, o BNA decidiu pela implementação de um regime de câmbio flutuante em que a taxa de câmbio é livremente definida pelo mercado, isto é, de acordo com a procura e oferta de moeda estrangeira”.

Na verdade antes mesmo destas recentes medidas emanadas pelo CPM do BNA, o kwanza já se encontrava completamente fora dos carris e, no meu entender o BNA não teve outra alternativa pois estava a conviver com dois problemas prementes:

1 - As Reservas Líquidas Internacionais (RIL) encontravam-se em queda continuada desde 2014, pressionada pela procura desenfreada de cambiais, pese embora, se tenha registado melhorias relativamente a oferta de cambiais, comparativamente a anos transactos, facto verídico, é que, o país já não tem o potencial de reservas que possuía e, por outro lado, o mercado formal estava a servir de abastecimento para o mercado informal, face ao preço de comercialização dos cambiais. Actualmente as RIL estão estimadas em perto de ou menos de 10 mil milhões de dólares quando, em 2014, as mesmas estivam-se em mais de 30 mil milhões de dólares;

2 - O petróleo já não vale o que valia, a petro-dependência associada a mono-exportação são outros problemas que infelizmente enfermam a economia Angola, são desafios hercúleos que a economia angolana terá de enfrentar e frenar, ou mesmo debela-los. O petróleo continua e continuará a ser ainda a principal fonte de divisas para o país, durante anos.

O BNA vê-se então entre a espada e a parede, e sem alternativas decide liberar o mercado cambial, passando o mercado a ditar o preço.

Facto que não pode passar despercebido, é o preço que o dólar vem conhecendo no mercado oficial para não referir do informal.

O kwanza já depreciou em 22% no período corresponde de Janeiro a Setembro 2019.

Fonte: BNA, 2019.

O gráfico susodito, aduz claramente o comportamento do preço do dólar desde o ano que eclodiu a crise no país (2014), originando a depreciação em cerca de 388%. A tendência é clara e, os meses subsequentes ilustram, caso não sejam tomadas medidas correctivas, o dólar tende romper a fasquia dos 700 kz por 1 Usd.

Consequências da subida taxa de câmbio

Não precisamos ser magos para prognosticar que as consequências da subida dos cambiais têm um impacto no custo de vida dos Angolanos. A mensagem apregoada de que a subida do preço dos cambiais não irão afectar os preços dos bens e produtos, é errónea, não precisamos ser erudito o suficiente. Angola é um país importador, grande parte dos bens, produtos diversos, máquinas e peças sobressalentes são importadas, e tais preços estão indexados a moeda estrangeira, logo, uma variação do preço dos cambiais originam, constituem-se bastante como factores indutores para actualizam dos preços finais.

Entesouramento de moeda

A depreciação do kwanza e o anúncio da entrada de novas notas de maior valor facial, são factores que influenciam na procura de divisas, existe em Angola ainda um volume considerável da massa monetária que circula fora do sistema ou canais legais, os níveis de informalidade são elevados estima –se que seja perto de 65%. Grande parte da população não coloca os seus recursos em bancos, associado ao facto que, existe um considerável número de comerciantes estrangeiros e não só, que, não possui os seus recursos em bancos, não aceitam pagamento com terminais pagamentos automáticos (TPA), são considerados factores bastantes para entesourar os seus recursos e fugir da depreciação do kwanza e da troca da moeda.

A grande preocupação, continua a ser os produtos que fazem parte da cesta básica, pese embora, tenha sido lançado o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (PRODESI), a produção nacional ainda é insipiente para fazer face a demanda e as necessidades mensais de cambiais para garantir a importação de produtos que estimam –se em mais de 200 milhões de dólares, só apenas alimentação, quando adicionados outros produtos e sobressalentes as necessidades cambiais mensais passam a fasquia dos mil milhões de dólares.

Kwanza barato, traduz investimento estrangeiro?

Kwanza barato seria sinónimo para atração do investimento directo estrangeiro (IDE) no entanto, quando analisamos os ranking de competitividade Angola ocupa a posição 134ª posição, com 2,7 pontos, entre 140 países avaliados, quando olhamos para o Doing Business, descemos quatro posições, passando da posição 173 para 177, de 190 países analisados, o que indica que existe ainda muito trabalho de casa para fazer com a finalidade de melhorarmos o ambiente de negócio e proporcionarmos um ambiente favorável para atração efectiva do IDE.

Auguro que a medida ora introduzida pelo CPM “que visa reduzir o prazo de liquidação de cartas de crédito” , surta o efeito pretendido, de tal sorte que não haja escassez de produtos sobretudo, os que compõem a sexta básica.

Como a corda rebenta sempre do lado mais fraco, espero que o nosso elástico seja rígido o suficiente para aguentar as surpresas que ainda nos brindará a economia angolana.

Por Janísio C. Salomão 

 
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