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Segunda, 18 Julho 2016 21:37

PR da Turquia poderia ter organizado 'falso golpe de Estado'

No século XX, na Turquia diferentes grupos tentaram organizar várias tentativas de derrubar o governo, mas nenhuma delas foi tão espontânea e mal preparada como a recente tentativa de golpe de Estado, escreveu no domingo (17) Cengiz Candar, colunista do portal Al-Monitor.

"Em relação à fracassada tentativa de golpe, tem mais perguntas do que respostas sobre quem fez isso e porque tudo foi feito com tão má preparação e com tanta estupidez", diz o jornalista do portal.

"Porque os golpistas, sabendo que Erdogan não estava em Ancara ou em Istambul, mas descansando na costa do Mediterrâneo em Marmaris, não tentaram agarrá-lo? Eles permitiram que ele saísse de Marmaris para o aeroporto mais próximo em Dalaman, de onde ele voltou para Istambul", acrescentou o especialista.

Também não está claro por que os golpistas não tentaram capturar os principais canais de mídia do país e usaram o canal TRT, o índice de popularidade do qual é muito baixo. Como resultado, os principais canais de televisão trabalharam no interesse do governo atual. Isso permitiu ao primeiro-ministro Binali Yildirim fazer uma declaração na NTV, enquanto Erdogan foi ao ar na CNN Turk via aplicativo do celular Facetime.

Entre os cerca de 3.000 golpistas presos há 40 generais, escreve o analista. Entre eles, o comandante do exército na fronteira com a Síria e o Iraque e generais que comandam as unidades terrestres e serviços de segurança interna. De acordo com Candar, é muito duvidoso que tais pessoas pudessem simpatizar com o golpe.

Além disso, durante o dia foram presos 140 juízes do Conselho de Estado e do Tribunal de Recurso. De acordo com o analista, foram afastados do sistema judicial quase 2.475 juízes, incluindo os membros do Tribunal Constitucional da Turquia, a principal corte do país.

"A capacidade e a prontidão do poder executivo em responder são impressionantes. Parece que Erdogan e seu governo estavam prontos para a tentativa de golpe de Estado e tinham toda a informação sobre as forças envolvidas neste processo", afirma Candar.

Além disso, os organizadores do golpe estavam atirando contra civis, o que não faz nenhum sentido, porque neste caso para o lado dos golpistas não passariam mesmo aqueles que inicialmente simpatizavam com os rebeldes.

"Assim, parece que Erdogan, provavelmente com a permissão das potências ocidentais, trabalhou com pessoas próximas nas estruturas militares para organizar um falso golpe de Estado. Isto deve parecer escandaloso para os que veem em tudo isto uma vitória da democracia sobre uma tentativa de tomada do poder pela força por 'um grupo de traidores', mas com tantas perguntas sem resposta, a variedade de teorias da conspiração emergentes não deve surpreender ninguém", conclui o analista do Al-monitor.

"Erdogan é um homem perigoso. A partir daqui vai fazer o que quiser" Analista Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares analisou a tentativa de golpe de Estado que teve lugar na Turquia, na última sexta-feira, bem como as suas consequências.

Para Miguel Sousa Tavares, a suspeita de que tudo foi encenado e partiu do próprio Recep Tayyip Erdogan “tem toda a lógica”, fundamentando a sua opinião com o facto de “no próprio dia do golpe terem sido logo detidas seis mil pessoas”.

“Como é que é possível em poucas horas prender-se seis mil suspeitos?”, questiona, respondendo que tal situação só leva a crer que “já havia uma lista de pessoas de quem Erdogan se queria ver livre”.

E entre estas pessoas, apontou, estão juízes, militares, polícias, governadores e até altos quadros do Estado e da Administração Pública.

O comentador da SIC acusou o Presidente turco de ser “um homem perigoso” que “criou muitos problemas à Turquia no que diz respeito aos curdos e à Europa”.

“Ele está numa situação de fuga para a frente. Continua a ser tolerado pela maioria da população e, aos poucos, vai transformando a Turquia numa ditadura”, frisou, lembrando que o Presidente da Turquia já havia “tentado modificar a Constituição da República para ficar com plenos poderes, mas as tentativas falharam porque não conseguiu a maioria necessária no parlamento para isso”.

Em jeito de conclusão do seu comentário semanal, o jornalista e escritor afirmou que “esta é a maneira através da qual Erdogan vai conseguir” o que quer. “A partir daqui vai fazer o quiser”, rematou.

Sputniknews

 

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