“Os senhores sabem, nós sabemos, o Venâncio Mondlane é o autor moral destas manifestações. Ele é que move com isto.
Ele não está aqui agora, está na África do Sul, mas de lá comanda, usa as redes sociais, em que nós, como usuários dessas redes sociais, não devíamos permitir isso, porque manipula a opinião pública e causa destruições”, afirmou Pascoal Ronda, em declarações aos jornalistas na sede do Ministério do Interior, em Maputo.
“Há muita família que está a chorar pelos danos que são causadas. Pessoas que são arrastadas a participar disso, mas depois, mais tarde, é que se arrependem disso.
O que é que ganhamos com isso? Para quê”, questionou o ministro. A intervenção de Pascoal Ronda foi feita cerca de uma hora antes de Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, ter apelado a uma greve geral de uma semana a partir de quinta-feira, manifestações nas sedes distritais da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e marchas para Maputo em 07 de novembro.
“Uma semana [07 de novembro] é suficiente para sairmos todos dos nossos distritos, das nossas localidades, para Maputo”, afirmou Venâncio Mondlane, que contesta os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, numa intervenção a partir da sua conta oficial na rede social Facebook.
Este apelo, disse o candidato, representa a terceira etapa da contestação aos resultados eleitorais, que em 21 de outubro, e depois nos dias 24 e 25 de outubro, já provocou violentos confrontos com a polícia, sobretudo em Maputo, com relatos de pelo menos 10 mortos.
Nas mesmas declarações, anteriores a este anúncio do candidato, o ministro Pascoal Ronda assumiu que é possível realizar manifestações, mas alertou para as que “assumem contornos violentos”, o que “significa que elas causam perturbação à vida das pessoas” e que “essas não são bem-vindas”.
“O Governo condena as manifestações violentas, que são as que acabaram de acontecer, e podem acontecer outras. E também condena a instrumentalização de jovens e de crianças”, afirmou Ronda.
Nesta intervenção, o ministro sublinhou que o “Governo apela à não adesão a estas manifestações e outras que se revelarem violentas”, porque “em nada ajudam”, recordando as consequência para o país dos 16 anos de guerra civil.
“Daí que apela à abstenção das mesmas, porque vimos o sofrimento registado, vimos a interrupção da vida normal, as pessoas não podiam ir trabalhar normalmente, as crianças não podiam ir à escola, os jovens não podiam ir à universidade, porque estavam com medo. O terror que elas criaram é imperdoável”, afirmou.
“O Governo apela à serenidade e à calma de todos nós, moçambicanos, para que diferenças e diferendos só se resolvam com base no diálogo e com base na lei.
Este país tem leis que regulam as relações entre as pessoas”, disse ainda, insistindo: “Não se pode resolver nada com base em ações violentas como as que acabamos de assistir”.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique anunciou na quinta-feira a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirma não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
A Frelimo reforçou ainda a maioria parlamentar, passando de 184 para 195 deputados (em 250), e elegeu todos os 10 governadores provinciais do país. Além de Mondlane, o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, atual maior partido da oposição), Ossufo Momade, um dos quatro candidatos presidenciais, disse que não reconhece os resultados eleitorais anunciados pela CNE e pediu a anulação da votação.
Na quinta-feira passada, o candidato presidencial Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), recusou igualmente os resultados, considerando que foram “forjados na secretaria”, e prometeu uma “ação política e jurídica” para repor a “vontade popular”.
O Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização não-governamental moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, estima que dez pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e cerca de 500 foram detidas, no contexto dos protestos e confrontos durante a greve e manifestações de quinta e sexta-feira, que se sucederam a iguais confrontos violentos em 21 de outubro, também convocados por Venâncio Mondlane.