Rui Figueiredo, há dois anos em Angola, onde trabalha numa empresa ligada ao setor dos transportes, conta à agência Lusa que "o salário chega a Portugal cada vez mais tarde" e que a sua empresa já o avisou de que "vai ser [pago] talvez mais tarde ainda".
"Cheguei a receber no último dia útil do mês e, atualmente, estou a receber no meio do mês seguinte", exemplifica.
O português explica que a empresa onde trabalha faz a transferência do seu salário, em euros, para a sua conta bancária em Portugal "na mesma altura do mês", mas recebe o dinheiro "cada vez mais tarde", devido à "escassez de dólares nos bancos angolanos".
"A dificuldade é fazer sair daqui divisas, porque não há dólares. Essa é a justificação que nos dão", realça, indicando que a empresa, apesar de ter liquidez, "até tem dificuldades em comprar bens necessários à produção".
Segundo o trabalhador, os portugueses que recebem o ordenado em kwanzas (moeda nacional de Angola) "têm dificuldades acrescidas", porque "há um valor limite que pode sair do país".
Por enquanto, Rui Figueiredo diz que o atraso no pagamento do ordenado não lhe "trouxe grandes problemas", por ter "reservas para o suportar", mas "pode vir a causar, se o atraso começar a ser significativo".
"Todos os portugueses têm contas para pagar e família em Portugal que vive como salário que aqui recebem", alerta, admitindo que a sua aventura naquele país africano pode estar a terminar.
"O meu contrato está a acabar e estou com vontade de voltar a Portugal, não só pela situação que se vive aqui, mas também por causa da família", confessa.
Estes problemas são mais acentuados desde há dois meses, devido à falta de dólares a circular em Angola. Em paralelo, o kwanza, segue em forte desvalorização cambial, com o dólar norte-americano a registar fortes subidas no mercado informal.
Em causa está a quebra das receitas petrolíferas em Angola, devido à descida da cotação internacional do barril de crude e por consequência da entrada de divisas no país. A situação já levou os bancos comerciais a restringirem os levantamentos de dólares ao balcão, com efeitos ainda no envio de remessas para o exterior e no pagamento de faturas internacionais pelas empresas angolanas.
A situação fez disparar a compra de divisas no mercado de rua, que chega a ser de um dólar para 150 kwanzas (1,3 euros). Já a taxa de câmbio oficial, definida pelo BNA, ronda os 105 kwanzas (95 cêntimos de euro) por cada dólar, quando em novembro não ultrapassava os 100 kwanzas (85 cêntimos de euro).
LUSA