Ao todo serão três dias de paralisação: segunda, terça e quarta-feira. Apesar de informações sobre um suposto cancelamento, Miguel Pereira, o presidente do conselho fiscal da Associação dos Taxistas de Angola (ATA), disse à DW que a greve continua "em pé" para os dias 28, 29 e 30 de julho.
"Não foi cancelada a paralisação. Está em pé. Segunda, terça e quarta fiquem em casa, mantenham as vossas viaturas no parque por forma a mostrarmos o nosso descontentamento e aguardarmos que o Executivo responda o nosso caderno reivindicativo", reiterou.
No caderno reivindicativo entregue há mais de 15 dias ao Governo da província de Luanda, as associações de táxis criticam, entre outros aspetos, a subida do preço do gasóleo, a não definição de paragens para carga e descarga de passageiros e mercadoria, as alegadas abordagens abusivas dos agentes reguladores de trânsito e a não profissionalização da atividade.
Por isso, a Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA) reitera a paralisação. Num comunicado, a ANATA também "negou ter participado de uma reunião com o governo com vista à suspensão da greve e reafirma o compromisso de representar os interesses dos taxistas"..
"Quando sobe o combustível, sobe o táxi"
O taxista Francisco Cacela disse à DW que está decidido: não vai trabalhar nos dias de greve indicados pelas associações. "Nós somos taxistas e olhando para causa em torno desse processo vamos, sim, parar em conjunto", disse.
Com o aumento no preço do combustível também subiu o valor do táxi. E porque protestar se obterão mais valor com o aumento da corrida? "Quando sobe o combustível, sobe o táxi e outras coisas também sobem. Hoje estamos a andar mais vazios do que carregados. Ontem, as pessoas andavam à vontade e hoje já não. Por exemplo, eu faço serviço de táxi e dificilmente faço o processo de ‘sobe e desce'. Fazem mais viagens diretas porque as pessoas estão limitadas em circular", responde o taxista.
Luanda, a capital angolana, com quase dez milhões de habitantes, depende essencialmente do táxi "azul e branco", por causa de escassez de transportes coletivos públicos.
O passageiro Israel Jaquelika vive em Cacuaco, no norte, e trabalha no sul de Luanda. Diariamente, gasta cerca de dois mil kwanzas (quase 2 euros). Não imagina como será nos dias de paralisação.
"Os táxis ajudam-nos porque saindo daqui até em Viana, se for de autocarro são quatro centos kwanzas e se for Hiace (azul e branco) são quinhentos kwanzas. Quem ganha 20 mil kwanzas (20 euros) como vai ser? O que os teus filhos vão comer? Nada. Não leva nada para casa", conta.
A DW tentou ouvir o governo, sem sucesso.
Protestos multiplicam-se
O aumento no preço do combustível e dos táxis tem motivado muitos protestos em Angola. Depois da manifestação do dia 12 deste mês, no último sábado (26.07) o "Movimento Contra Subida do Combustível" voltou a levar centenas de cidadãos às ruas de Luanda.
Os manifestantes foram dispersados depois de serem impedidos a chegar ao seu destino. "Vamos lutar juntos. Juntos vamos conseguir. Precisam baixar o combustível, precisam baixar a cesta básica. Ajudem-nos, fiquem do nosso lado, mano", gritava um dos manifestantes à um polícia que cercava o protesto.
Num manifesto, os organizadores dizem "chega, basta" e pedem ao governo para ouvir "a voz do povo".
No documento, ao qual a DW teve acesso, pede-se também a libertação dos ativistas Gonçalves Frederico e Osvaldo Kaholo, esse último detido preventivamente acusado pelo Ministério Público por crimes de incitação à violência, rebelião e apologia pública ao crime.