Contrariamente à tendência histórica de queda dos preços dos principais produtos da cesta básica em Janeiro, no primeiro mês de 2024 alguns dos produtos atingiram aumentos de quase 40%, face a Dezembro último, conforme consulta do Valor Económico em diferentes estabelecimentos retalhistas.
Entre os principais produtos mais consumidos pelas famílias, a coxa de frango está entre os que registaram maior variação do de preço. A caixa de 10 quilogramas, vendida em Dezembro entre 15 e 16 mil kwanzas, saltou para os 22 mil kwanzas, um aumento de 37,5%. No entanto, é possível encontrar em alguns armazéns a caixa a ser comerciada por 18.900, mas “esta não é de boa qualidade”, segundo algumas testemunhas.
O arroz é outro produto cujo preço registou um incremento considerável. O preço do saco de 25 kg subiu 25% ao ser comercializado a 25 mil, mais cinco mil em relação ao preço praticado no fim do ano transacto. Mas, quando se descarta a qualidade, é possível comprar entre 21 e 22 mil kwanzas.
Neste caso, o preço a subida é associado à variação da taxa aduaneira. Anteriormente livre de encargos fiscais, com a nova pauta aduaneira a importação do arroz tem uma taxa de 20%, apesar de o país produzir apenas 21 mil toneladas anualmente e ter uma necessidade de consumo de 400 mil toneladas anuais.
O produto que verificou maior aumento, de cerca de 50%, é a fuba de milho, embora os dados governamentais digam que o país é actualmente auto-suficiente. O preço de 10 kg que custava 5 mil kwanzas disparou para os 7.500 kwanzas. A massa alimentar é outro produto em relação ao qual o Governo defende existir produção auto-suficiente, tendo registado um aumento com uma variação de 46%, a caixa de 20 pacotes passou de 5 mil para 7.300 kwanzas.
Por sua vez, a caixa de carapau de 30kg, anteriormente nos 53.500, subiu 12% para os 60 mil kwanzas.
A mesma subida de preço verificou-se no alimento mais consumido a nível do mundo. O preço do pão francês passou de 35 para os 45 kwanzas e o cacete aumentou de 100 para 130.
TENDÈNCIA PODE MANTER-SE
Economistas e comerciantes entendem que os preços da cesta básica e não só poderão aumentar para níveis mais altos a partir do fim de Fevereiro, com a entrada em vigor da nova pauta aduaneira, instrumento que, para o Governo, vai beneficiar a produção nacional. Por exemplo, o Centro de Investigação Económica da Universidade Lusiada (Cinvestec) antevê mais escassez de produtos e altos preços, consequentemente mais dificuldades às famílias.
"Produzimos muito menos do que o necessário para o consumo interno. Se quase não exportamos bens e serviços finais e temos de importar uma parte significativa do que ganhamos com os rendi- mentos do petróleo para satisfazer o consumo, é necessário não avançar com a proibição administrativa das importações e testar, já, a retirada dos subsídios ao gasóleo", recomenda no último relatório económico publicado em Dezembro de 2023.
A subida de preços tem obrigado mais famílias a optarem pelo modelo de compra compartilhada de alimentos. Em alguns estabelecimentos, os produtos já são vendidos em metades. Por exemplo, o meio saco de arroz custa 12.500 kwanzas e a meia caixa de peixe carapau está a 30 mil. Valor Económico