O dossiê das participações da Sonangol em empresas portuguesas não faz parte da agenda pública da visita de António Costa a Angola, não tem o estatuto de "irritante" nas relações bilaterais, mas é decisivo para ambos os países.
A participação de 19,49% no BCP e a posição indireta de cerca de 15% na Galp, através da Amorim Energia, são relevantes para ambos os países, por razões diferentes. No caso do banco tem-se referenciado a possibilidade de ser protagonista de um movimento de fusão com o Novo Banco, operação que irá requerera entrada de novos acionistas. Nestas circunstâncias, a petrolífera angolana seria forçada a reduzir a sua participação no BCP e o novo acionista teria de estar confortável com o facto de ter a Sonangol como parceira, o que é sempre complexo, atendendo aos problemas de transparência que são identificados quando o tema são negócios com Angola.
Já no caso da Galp, a Sonangol limita-se a ser um acionista de perfil financeiro, focado no dividendo, e atento à possibilidade de rentabilizar a sua posição caso surja uma grande empresa do setor interessada na aquisição da petrolífera nacional.
Além desta dimensão bilateral, a Sonangol é igualmente relevante para Angola noutras dimensões que vão além da sua contribuição para os cofres do Estado. Uma delas é o desvio de petróleo para os países vizinhos, República Democrática do Congo e o Congo Brazzaville. Um problema abordado pelo ministro dos Petróleos, Diamantino Azevedo, numa entrevista ao jornal da Sonangol, Pacaça. "O problema tem várias componentes, mas o trabalho está a ser feito e nós esperamos que em breve essas medidas comecem a surtir efeitos.
Outra tem a ver com a diversificação da atividade, a qual não passa apenas pelas fontes de energia. "A indústria petroquímica no país é quase incipiente, mas é muito importante. Muitas vezes as pessoas relacionam o petróleo só como 'input' principal para os combustíveis, mas há outra importância para o petróleo e gás, que é a indústria petroquímica. Nós traçamos também uma estratégia e queremos ver surgir polos petroquímicos junto aos nossos projetos de refinação no Soyo e Lobito", sublinha Diamantino Azevedo.
Uma outra questão tem a ver como desempenho financeiro da Sonangol. A prestação da petrolífera e as suas contas são avalia- das a pente fino e revestem-se de uma relevância estruturante, não apenas para o Orçamento do Estado de Angola, mas também para as avaliações realizadas por entidades internacionais, especialmente o Fundo Monetário Internacional.
Por exemplo, em relação a 2022 sabe-se que fechou o ano com um volume de negócios de 12,7 mil milhões de dólares, mas o eventual lucro ainda é uma in- cógnita, na medida em que as contas finais, auditadas pela KPMG, ainda não foram publicadas.
Jornal de Negocios