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Quinta, 22 Outubro 2015 05:22

Estão à espera de que Luaty morra?

Luaty Beirão entra hoje no 32.º dia de greve de fome num protesto contra a ilegalidade da sua prisão e de mais 14 ativistas políticos.

E a cada dia que passa desejamos todos, a começar pelo presidente angolano e passando pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, que o rapper luso-angolano consiga o milagre de resistir mais umas horas a água, a chá e a uma solução salina administrada por via intravenosa.

Foi Luaty, um dos rostos mais visíveis da contestação ao regime de José Eduardo dos Santos, quem tomou a decisão de fazer greve de fome, pelo que os apelos poderiam dirigir-se ao músico, que assina como Ikonoklasta, pedindo-lhe que suspenda quanto antes a greve de fome, e não ao governo angolano para que o liberte. É o que pensam os que consideram o direito à vida o mais importante e seria o que eu, enquanto mãe, não me cansaria de fazer até ao último minuto.

Mas não foi essa a decisão de Luaty, que optou por arriscar a sua vida pela defesa de direitos fundamentais de todos os cidadãos como a liberdade e a justiça. Nem o caso do ativista angolano pode ser encarado como um braço-de-ferro entre um governo, que suspeita de conspiração para um golpe de Estado, e um seu oposicionista, que contesta uma prisão ilegal. É uma vida que está em causa, não há, neste caso, explicação para a inflexibilidade do governo angolano.

É caso para perguntar se estão à espera de que Luaty morra? Se isso acontecesse - este risco é, infelizmente, cada vez maior - Angola deitaria abaixo muito do trabalho feito nas últimas décadas na construção de uma democracia. Esse trabalho pertence aos angolanos, aos cidadãos e a uma classe de empresários, que se espalham pelo mundo e querem e merecem ser respeitados. E a pergunta é inevitável: o que se pensa, no mundo, de um país que mantém preso um ativista político em greve de fome ao longo de 32 dias?

Faça-se a questão e ouçam-se as respostas. Comece--se pelos angolanos e depois com os portugueses. Luaty vive em Angola, mas também tem nacionalidade portuguesa, não se entendendo, por isso, a distância com que o assunto tem sido tratado pelo governo português. É admissível que só após 30 dias em greve de fome o embaixador de Portugal em Luanda visite Luaty Beirão?

Existem relações institucionais e económicas a preservar e a aprofundar, o Estado de Angola é soberano, mas há assuntos que queimam muito mais do que as consciências de quem assiste aos dias a fugir na vida de Luaty. Pelos angolanos e pelos portugueses, também eu peço ao governo de José Eduardo dos Santos que liberte o ativista, para que aguarde em liberdade o início do julgamento marcado para 16 de novembro.

Por Sílvia Oliveira

DN

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