O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, incluiu Angola no seu périplo por países de África e do Médio Oriente, no decurso da qual pretende promover a fórmula de paz e consolidar o apoio humanitário e energético à Ucrânia.
Esta é a primeira vez que um chefe da diplomacia ucraniana visita Angola, uma iniciativa que para Andrii Sybiha tem particular relevância atendendo ao conflito com a Rússia.
“Precisamos de mais solidariedade, precisamos de mais apoio, precisamos de mais contributos de outros países para [reforçar] a nossa capacidade de nos defendermos”, afirmou, em entrevista à Lusa, acrescentando que este é também um “sinal claro” de que a Ucrânia está pronta a desenvolver as relações bilaterais com Angola em todas as dimensões.
Os dois países estabeleceram relações diplomáticas desde 1994, mas não têm desenvolvido o potencial na sua plenitude, sendo este um dos objetivos desta visita, tendo em conta “as possibilidades muito prometedoras” das relações bilaterais, adiantou.
Agricultura, educação e cooperação na área da defesa são algumas das áreas de interesse para a cooperação entre os dois países, segundo Andrii Sybiha, assegurando que se pretende apoiar Angola a tornar-se mais autossuficiente.
“A Ucrânia é famosa pelo seu potencial agrícola, nós somos líderes neste setor a nível mundial, somos um dos garantes da segurança alimentar, temos conhecimento, temos tecnologias, temos experiência, e estamos prontos para partilhar com os nossos amigos”, declarou à Lusa.
Andrii Sybiha recordou a relação “historicamente próxima” com o país lusófono devido à cooperação da antiga União Soviética [bloco em que a Ucrânia estava integrada], com Angola, tendo sido formados nas universidades ucranianos vários altos responsáveis angolanos, como o seu homologo Téte Antonio, com quem se encontrou na quinta-feira.
“Tive a oportunidade de informar as minhas contrapartes sobre os últimos desenvolvimentos na Ucrânia e sobre a situação na fronteira, falámos sobre a fórmula de paz de Zelensky e como a tornar possível, uma paz justa, compreensiva e de longa duração.
Não queremos uma ausência de guerra, queremos uma paz justa para a Ucrânia”, explicou.
Sybiha, que foi também recebido pelo Presidente angolano João Lourenço, sublinhou que Angola foi convidada para participar na próxima cimeira da paz promovida por Kiev [o país africano não participou na primeira], destacando que a Ucrânia está preparada para convidar os responsáveis russos.
O chefe da diplomacia ucraniana conversou com João Lourenço sobre o contributo de Angola no Processo de Luanda (que visa assegurar a paz entre a República Democrática do Congo e o Ruanda) sobre o Corredor do Lobito avaliar como a Ucrânia pode trazer também a sua contribuição para esta infraestrutura ferroviária estratégica que atravessa Angola, ligando o Porto do Lobito à fronteira com a Republica Democrática do Congo, ao longo de mais de 1300 quilómetros.
Os contributos ucranianos podem traduzir-se em tecnologias agrícolas, mas a Ucrânia está também interessada em usar o Corredor para transportar os produtos agrícolas ucranianos através de Angola, até aos países com ligação à infraestrutura, e vice-versa.
“Tem um grande potencial e estamos prontos para contribuir, estamos prontos para ser úteis e contribuir para a autossuficiência dos países africanos com o nosso conhecimento e experiência”, disse.
O governante realçou que a Ucrânia é líder em equipamentos não tripulados e tem muito a propor aos seus parceiros, no campo da cooperação militar, mas também com tecnologias civis como o uso de drones em agricultura.
Além do apoio diplomático e da cooperação “com benefícios mútuos” nestas áreas, a Ucrânia olha também para o petróleo, bem como o intercâmbio de estudantes com interesse, assumindo que “a localização geopolítica de Angola é muito promissora” a nível de projetos para o futuro.
Atestando a importância de Angola, a Ucrânia deve nomear em breve um embaixador para Luanda e o ministro convidou o Governo angolano a considerar também abertura de uma embaixada em Kiev.
Andrii Sybiha disse que o país está principalmente interessado em alcançar apenas uma paz compreensiva, procurando apoio dos seus parceiros face à “agressão da Rússia” que tem causado “várias crises no mundo”, desde escassez de alimento, à energia e segurança.